UFPA recebe primeiros candidatos indígenas em 2010

No próximo domingo, dia 24 de janeiro, a Universidade Federal do Pará aplicará uma prova diferente. Paralelamente à realização da 2ª fase do Processo Seletivo Seriado 2010 da Universidade (PSS), 194 candidatos indígenas farão uma redação. A primeira avaliação para ingresso na Instituição, por meio dessas ações afirmativas, acontece das 8h às 13h, horário de Belém.



54 pessoas de oito etnias farão a prova no Bloco A do Campus Básico da Universidade, localizado na capital; 44 candidatos de seis etnias prestarão o exame em Altamira; 34 estudantes indígenas pertencentes a sete etnias diferentes deverão se dirigir ao Campus II da Universidade, em Marabá, no próximo domingo, e 62 pessoas de 16 etnias distintas farão a prova no Campus da UFPA, em Santarém.



Este ano, os indígenas disputam 112 vagas criadas, especificamente, para eles nos cursos em que houve inscrições. Ou seja, além dos 6.082 calouros que a UFPA receberá em 2010 pelo PSS, a Universidade terá, ainda, um número a mais de novos alunos que serão aprovados por meio de um Processo Seletivo Diferenciado, criado para se ajustar às especificidades dos povos indígenas, composto por uma redação e uma entrevista.



A antropóloga Jane Beltrão, coordenadora da Comissão de Avaliação do Processo de Seleção Diferenciada da UFPA (CAPSDU), aponta, nas diferenças existentes entre o sistema de ingresso e o tradicional, a atenção para a diversidade educacional e cultural deste grupo de candidatos. “Entendemos que esses estudantes possuem especificidades em relação aos outros porque são melhores oradores que escritores. E tanto a oralidade, quanto a expressividade são características culturais de que a Universidade tentará se apropriar para criar mecanismos de seleção mais acessíveis para o ingresso dessas populações na Instituição. Não podemos esquecer, também, as limitações e os desafios que a educação indígena, mesmo assegurada por lei, enfrenta”.



A pesquisadora lembra que ainda são poucas as aldeias que possuem escola e, em todo o sul e o sudeste do Pará, por exemplo, apenas duas acompanham os alunos da 1ª série ao fim do ensino médio, o que obriga os estudantes a se deslocarem para os povoados e núcleos urbanos para concluir seus estudos.



“A educação não pode estar separada da ‘cosmovisão’ indígena da realidade e não pode ameaçar a língua indígena, nos casos em que eles ainda falam o idioma materno. Porém, por uma série de limitações, eles acabam tendo de frequentar uma escola não-indígena e de enfrentar os vários impasses e dificuldades que isso representa. A criação dessas vagas é uma tentativa de corrigir e adaptar regras que não estão adequadas para uma parcela dos nossos candidatos”, defende a presidente da Comissão.



UMA AVALIAÇÃO DIFERENCIADA


A prova de Redação a ser realizada no dia 24 não terá um número mínimo ou máximo de linhas. “Partimos da perspectiva de que o português apropriado pelos indígenas é produzido sob a interferência de um idioma e uma cultura materna diferente da nossa. Por isso temos uma comissão de correção formada por especialistas em analisar esses marcadores que interferem na língua”, revela Jane Beltrão.



A correção da prova de Redação deve durar, no máximo, três dias. “Temos uma equipe experiente na parte de antropologia e de linguagem indígena, a qual conhece bem os marcadores linguísticos e os critérios criados para avaliar esses candidatos de forma diferente”, assegura a presidente da Comissão. Se todos os 194 candidatos inscritos passarem para a próxima fase do concurso, as entrevistas individuais deverão ser feitas em dois dias e, aproximadamente, no mesmo período da realização da última fase do PSS 2010, na segunda semana de fevereiro. O resultado final com a lista de calouros 2010 da UFPA está previsto para o dia 27 de fevereiro e já incorporará os candidatos indígenas aprovados.



“Durante a entrevista, vamos ver a capacidade de expressão associada ao que eles conheceram no ensino médio. Não vamos avaliar conteúdos porque eles têm outra percepção das disciplinas. Vamos, na verdade, discutir a possibilidade de, estando na UFPA, que tipo de transição eles vão fazer em relação ao conhecimento obtido na escola, seus conhecimentos tradicionais e culturais e ainda a perspectiva política deles em estar na Universidade. Indígenas com formação acadêmica são uma via para que esses povos tenham mais acesso aos seus direitos”, defende a antropóloga.



Para Jane Beltrão, “após o ingresso no ensino superior, a questão seguinte é como nós, a Universidade, vamos favorecer a possibilidade deles permanecerem nos cursos preteridos. O projeto financiado pela Fundação Ford e pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação da UFPA (PROEG) deverá se estender para a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) com a criação de uma política de assistência estudantil específica, com bolsas e outros auxílios para os candidatos indígenas. Por isso a Comissão também será responsável por acompanhar esses futuros universitários em sua vida acadêmica”.



VAGAS PARA INDÍGENAS: Qualquer indígena brasileiro pode disputar as duas vagas ofertadas, especificamente para eles, em cada curso de graduação da UFPA. O Processo Seletivo Diferenciado acontece sempre paralelo ao PSS com inscrições abertas, geralmente, no segundo semestre.



SERVIÇO:


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Veja a lista de candidatos indígenas que farão a redação neste domingo


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Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA