A vitória do azarão republicano Scott Brown na eleição para o Senado de Massachusetts foi um balde de água fria nos planos do presidente Barack Obama.
A eleição de Brown, para a vaga deixada por Ted Kennedy, que morreu em agosto, faz os democratas perderem a maioria de 60 senadores - eles passam a ter 59 cadeiras, diante das 41 que têm agora os republicanos. Os democratas precisam da maioria de 60 para derrotar manobras legislativas dos republicanos para bloquear a aprovação de legislações. A vitória de Brown ameaça a aprovação da reforma do sistema de saúde, por exemplo.
Além disso, perder a vaga que Kennedy ocupou por 46 anos é simbolicamente horrível. Massachusetts é um Estado muito democrata, o único que votou em George McGovern quando Richard Nixon se elegeu, em 1972. Para os republicanos, a vitória de Brown sobre a democrata Martha Coakley representa um repúdio às políticas do governo Obama, principalmente à reforma da saúde. Também seria uma manifestação da insatisfação profunda com a crise econômica. Brown teve 52% dos votos e a candidata democrata, 47%.
"Esse pode ser um sinal do que está por vir; a eleição legislativa (em novembro) não será boa para os democratas", diz Julian Zelizer, professor de história na Universidade Princeton. Segundo ele, os independentes que ajudaram a eleger Obama desencantaram-se com o presidente. Os conservadores ganharam mais ânimo com os protestos contra a reforma da saúde, e os mais à esquerda estão frustrados com a decisão de Obama de escalar a guerra do Afeganistão.
Brown teve uma candidatura anti-establishment, contestando o direito natural dos democratas à vaga ocupada por 46 anos por Kennedy. E fez campanha contra as mudanças no sistema de saúde. "A reforma de saúde vai elevar os impostos, prejudicar o Medicare, destruir empregos e aumentar a dívida do país", disse Brown em seu discurso da vitória.
Os democratas retratam a derrota de outra maneira. Para eles, Martha Coakley se acomodou, achando que ia ganhar, e fez uma campanha pouco eficiente. Além disso, Massachusetts não pode ser visto como um voto dos eleitores contra a reforma de saúde porque o Estado é um dos únicos que já aprovou uma reforma estadual que dá aos cidadãos acesso universal ao setor.
De qualquer maneira, a perda da maioria ameaça a aprovação de várias prioridades da agenda de Obama. O presidente terá de ficar mais centrista e fazer mais concessões para aprovar suas legislações - no caso da reforma de saúde, abandonando de vez a polêmica opção pública, o plano de saúde estatal.
E alguns democratas começam a repensar seu apoio à agenda do presidente. "Se perdemos Massachusetts e isso não é um alerta, não vai ter como acordarmos para a realidade", disse o senador democrata Evan Baih.
Estadão: Patrícia Campos Mello, correspondente em Washington