Governo Ana, corrupção e futuro do PT Pará

As probabilidades de o PT retomar as iniciativas políticas a partir da sociedade civil e das disputas municipais de 2012, a partir das grandes cidades do Pará, dependerá do trabalho do MPF e da PF. Caso seja feito um pente fino na drenagem dos recursos públicos para cofres privados, principalmente nos últimos 60 dias, o governo, o PT e muito medalhão vermelho cairão em desgraça estratégica. Será o caminho paraense do PSB italiano, a partir da operação mãos limpas que liquidou aquela centenária legenda. Neste cenário o PT deixará de ser ator central na política paraense por um longo período. Só uma nova geração poderia reconstruir a legenda.


Agora veremos se o MPF e PF têm autonomia frente a partidos e governos, para investigações autônomas e sem trégua. Será que Macapá é aqui?

governos e parlamentos: mudanças em conta gotas

Setenta por centos dos parlamentos estaduais e nacional são controlados pela centro-direita. É assim desde a República de 1946, período que marca a instalação da república democrática no Brasil.

Voto em lista aberta, financiamento privado de campanha combinado com o personal vote sintetizam a receita que permite que 70% dos parlamentos sejam definidos pelo poder econômico. Mesmo parte da bancada de esquerda, oriunda de partidos governistas mamam nas tetas dos poderes orçamentário, administrativo e financeiro, patrocinados pela máquina de governo.


É fato: não passa no congresso, de forma nenhuma: reforma política, reforma tributária e repactuação federativa. No Brasil, o Estado federativo faz o movimento inverso à sua concepção originária. Aqui o Estado faz o efeito Hobin Hood ao contrário. O orçamento é distribuido favorecendo mais aos estados ricos em detrimento dos estados pobres. E Assim caminham as desigualdes regionais. O ICMS dos minerais é cobrado no destino e o Pará vai ficando apenas com os buracos na terra e as chagas sociais.

As mudanças sociais acontecem em contagotas e são consequência do crescimento econômico. As políticas sociais são mais baseadas em políticas compensatórias do que em políticas universalistas e assim, a esmola social prevalece sobre políticas redistributivas.

Que 2011 coloque a academia discutindo de forma crítica as políticas públicas do governo central e não fique dourando a pílula. O Brasil e suas políticas no complexo jogo das disputas dentro de um governo prenhe de contradições e de forças políticas, dá uma bolsa família aos ricos (PAC) e uma bolsa família aos pobres, que é a renda mínima. Neste jogo a equidade cresce em rítimo lento. A massa de capital cresce mais do que a massa salarial.

2010: e os tucanos renasceram das cinzas no Pará

Para um analista equidistante estas eram as possibilidades da candidatura tucana antes do pleito de 2010 no Pará:

1- Conflito entre as alas Almiristas e Jatenistas, portanto, tucanos rachados
2- Não mais do que 14 pequenas prefeituras na base de apoio de uma eventual candidatura tucana
3- Apenas o PPS formava, sem vacilo, a base de coalizão do PSDB
4- Jatene sem apoio de máquina federal ou estadual
5- Jatene com baixo caixa de campanha para enfrentar o poderio governista
6- Jatene só contava com a boa lembrança do eleitorado, uma vez que o mesmo deixou o govenro em 2006 com mais de 80% de avaliação positiva.


Portanto, se a política fosse o resultado de uma somatória matemática de variáveis relacionadas à patronagem, Ana Júlia estava apriori reeleita e foi nesta perspectiva que apostou o núcleo "duro" de Ana Júlia. A compra de votos decidiria esta eleição no Pará.

O mundo da política revelou que o resultado em política é muito mais do que uma visão matemática. O Povo do Pará passou por cima das máquinas de governo, partidária e do poder econômico e, enxotou Ana Júlia da direção política do governo do Pará.


A vitória de Jatene foi o resultado de múltiplos fatores, mas sem dúvida nenhuma, se fôssemos usar a terminologia Tocqueviliana em torno de causas principais e causas secundárias, não tenho dúvida em concluir que o maior cabo eleitoral de Jatene foi a própria Ana Júlia e seu desastroso governo. O Povo do Pará demonstrou que sabe avaliar o desempenho de um governo e sabe afastá-lo quando a "borracha termina primeiro do que o lápis".

2010: o sonho petista esvaiu-se

Neste ano tivemos mais uma eleição no Brasil e no Pará. Dois mil e dez marca a desmoralização política do sonho petista paraense, impulsionado pela mais incompetente gestão política e administrativa que o governo do Pará passou em mais 20 anos de redemocratização.

Vejamos os sintomas objetivos de incompetência política e administrativa à frente do governo do Pará:

1- Explodiu as relações executivo-legislativo, ao torpedear sua própria base de sustentação política.
2- Estourou suas relações políticas com os partidos da base, ao negar a estes aliados o direito de participar da discussão e formulação de polítcas públicas ao estado. Nunca um conselho de governo teve vida regular.
3- Foi incapaz de divulgar suas principais realizações. O uso de "mídias alternativas" liquidou com as pretensões do governo na busca de boa avaliação.
4- Foi absolutamente incompetente na produção e execução de políticas públicas em áreas vitais para a sociedade: saúde, educação e segurança.
5-Não soube administrar os 20 escândalos que se abateram sobre o governo.
6- Foi envolvido em diversos escândalos de denúncia de corrupção sem apresentar comportamento de indignação e nem produzir apurações e punições a respeito destes.
7- O governo foi capturado pela trinca cintura dura e arrogante: Maurílo, Marcílio e Puty, que conduziram o governo ao mais completo isolamento político frente ao PT, aos partidos aliados e à sociedade.

Enfim, perdeu-se uma eleição impossível de ser perdida, pois este governo dispunha de: máquina federal, máquina estadual, mais de 70 máquinas municipais, 14 partidos na base e muitos recursos orçamentário, administrativo e financeiro. Enfim, uma eleição que não tinha como perder. Só não combinaram com o povo.


Na verdade, o Pará nestes 4 anos, não teve uma governadora com autonomia polítca para tomar as decisões e apontar rumos ao estado. A governadora entregou o destino do governo ao trio cintura dura e arrogante. Foi um caos. E a coisa vai piorar quando o MPF e a PF começarem a estourar os crimes de corrupção que vêm assolando e assolou este governo entre 2007-2010.

Partidos, governantes e Res Pública

Creio que hoje dependemos, no Brasil e no Pará do potencial para ser estadistas dos governantes. Os partidos estão contaminados, sem exceção, por uma classe política oriunda de um sociedade civil, milenarmente contaminada pelo patrimonialismo.


Todos os partidos, da redemocratização, compactuaram com chefes políticos envolvidos em escândalos de corrupção. A impunidade dos chefes contaminou o segundo e o terceiro escalão dos filiados partidários. A população formou juizo de valor negativo dos partidos e da classe política. E isto é terrível para o futuro da democracia.


Hoje dependemos mais do que nunca do potencial democrático, republicano e de estadista dos governantes: governante que não rouba, normalmente não deixa roubar. Governante leniente com a corrupção de seus auxiliares, na prática, dá sinal verde para o saque do dinheiro público.


Enquanto dependemos de raros estadistas, seria fundamental aperfeiçoarmos as instituições de combate à corrupção, a partir das seguintes iniciativas: 1- Penalização dura aos crimes do colarinho branco, 2- Ministério Público destrelado de influências partidárias e governamentais, 3- Controle social sobre as políticas públicas, 4- Imprensa livre , 5- Polítca permanentes de distribuição de rendas, 6- Investimento prioritário em educação, ciência e tecnologia em todos os níveis.