EUA: A crise das universidades

AS UNIVERSIDADES privadas dos EUA foram por muito tempo a inveja do mundo, não menos por conta dos seus saudáveis patrimônios de investimento. Antigos alunos ricos e outros benfeitores doaram, ao longo dos anos, vastas somas para essas instituições. No começo de 2008, o fundo de investimentos de Harvard tinha US$ 37 bilhões em capital, e o de Yale, US$ 23 bilhões.

Outras universidades também acumularam grandes dotações ao investir pesadamente em títulos privados de alto retorno, imóveis e fundos de hedge. Os administradores dos fundos universitários lucraram consideravelmente ao longo do processo, recebendo bonificações multimilionárias. A remuneração real que recebiam superava a de qualquer reitor universitário. Mas, em outubro de 2008, tudo mudou.

O colapso financeiro em Wall Street causou sérios abalos no sigiloso mundo da gestão de investimentos universitários. A dotação de Harvard perdeu mais de 27% de seu valor, o maior declínio sofrido em 40 anos. Em Yale, as perdas foram de 24,6%. A dotação de Stanford caiu em 27%. Em Princeton, a perda foi de 23%. Algumas universidades se saíram melhor (ou menos pior) que isso: a Universidade da Pensilvânia, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade Colúmbia, por exemplo, que haviam direcionado a maior parte dos seus investimentos para títulos do governo. Mas o quadro geral era de devastação.

Muitas dessas universidades de elite usavam a receita de seus investimentos para bancar despesas cotidianas. A expectativa de ganhos com os investimentos havia sido incorporada ao seu nível atual de despesa. No começo deste ano, Harvard tentou vender cerca de US$ 1 bilhão em ativos, mas abortou o processo diante da resposta pouco entusiástica do mercado. Em vez disso, tomou um empréstimo de US$ 1 bilhão, encorajou a antecipação de aposentadorias, congelou salários, suspendeu projetos de expansão e impôs cortes generalizados de despesas.

Mas a venda de cotas em carteiras privadas de investimento tende a agravar os prejuízos. No começo deste ano, o valor dessas transações aparentemente era de apenas 30% do valor de face das cotas em questão, e mesmo que tenha subido a 50% nas últimas semanas, ainda envolve a aceitação de substanciais prejuízos nas carteiras universitárias de investimento mais amplas. Os alunos de Harvard, que retornaram à universidade em outubro, descobriram que não terão mais direito a desjejuns quentes. E essa é apenas uma pequena parte dos sacrifícios que essas universidades terão de fazer agora.

Folha de São Paulo, 29/10/2009

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI