Todos sabemos que a Ciência Política não é exata, nós trabalhamos com a perspectiva Weberiana do falibilismo e das probabilidades tendenciais. Partindo destas assertivas vamos construir alguns cenários possíveis do desempenho eleitoral de Ana Júlia em 2010, analisando o contexto das eleições do ano vindouro à luz da situação do governo estadual, hoje.
1- Quatro forças políticas devem ser consideradas como atores muito importantes no quadro sucessório estadual: O governo Ana e o PT, O governo Dudu na capital e o PTB, Jáder e o PMDB e Jatene e o PSDB. É da mexida neste tabuleiro político que emergirá a coalizão vencedora das eleições no Pará.
2- Do ponto de vista de indução de coalizões eleitorais o governo Ana e o PT contam com a poderosa máquina federal e estadual. Não é a toa, que apesar da péssima percepção popular do desempenho do governo Ana, forças políticas como PR, PTB e PMDB e G-8 ainda não se deslocaram para o espectro oposicionista.
3- PTB, PMDB e PR esperam com paciência o desempenho da candidatura Ana Júlia nas pesquisas de opinião entre os meses de março e junho de 2010. Qualquer posicionamento abaixo de 25 pontos gerará traições eleitorais subterrâneas, nunca antes vistas na história política do Pará, contra um candidato governista. Ou seja, não haverá rompimento formal, mas informal. Ninguém vai largar a máquina administrativa em um ano eleitoral.
4- A grande esperança da candidatura Ana, hoje, residiria na falta de um desafiante com capacidade política e financeira para enfrentar o governo estadual: Jáder não quer correr risco eleitoral nenhum em 2010 e Jatene está desprovido de uma máquina de patronagem capaz de disputar o eleitor pragmático do interior e da periferia das grandes cidades, que exige obras e serviços imediatos. Dudu pensa no máximo, neste momento, no senado federal.
5- O efeito Dudu de 2008 pode vir a ocorrer no Pará, qual seja: entre o ruim (Ana) e o pior (oposição) o povo poderá optar pelo ruim. Mas este é um cenário de altíssimo risco, porque o povo dos grandes centros urbanos do estado poderá “derrubar” a detentora do governo contra todas as variáveis acima listadas. E esta possibilidade pode se viabilizar, uma vez que Jatene não é um candidato qualquer, Simão é um ex- governador bem avaliado e com grande visibilidade eleitoral. Quem imaginava que Almir perderia em 2006, com a máquina estadual e mais 122 prefeituras municipais?
6- Mas uma questão posso afirmar com convicção: qualquer recandidato no exercício do poder político sempre será um osso duro de roer e portanto, Ana Júlia deverá estar no segundo turno de 2010, mesmo que passe em segundo lugar entre os dois finalistas. Nestas condições será a variável federal (candidatura Dilma) é quem ditará o posicionamento do PMDB, em um segundo turno no Pará. Quanto constrangimento: depender de outras variáveis políticas, para pensar em uma reeleição.
7- O PMDB não acredita em si próprio, daí a vacilação em torno de que postura assumir em relação à sucessão no Pará em 2010. Por certo o PMDB têm mais de 40 prefeituras, têm o nome mais notório da política paraense ( Jáder), têm máquinas federal e estadual no estado, então por que o PMDB não sai para a disputa com Jáder na cabeça? Porque Jáder sabe que carrega grande rejeição pessoal nos grandes centros urbanos do estado e esta rejeição é fatal em eleição majoritária, em um estado de dimensão continental, onde 2/3 do eleitorado reside nas cidades.
8- Jáder possui hoje 25% de rejeição, caso saia candidato em uma eleição majoritária, esta rejeição pode crescer rapidamente para 40%. Afinal os adversários lembrarão a história “ética” de Jáder no governo estadual. Candidato que dispute uma única vaga majoritária, não sobrevive eleitoralmente com rejeição de 40%. O cenário mais provável é que o PMDB mantenha a vacilação em torno de uma possível aliança com o PT, já no primeiro turno, até que o governo federal cubra as demandas deste partido.
9- No fundo, lá no fundinho, Jáder gostaria de eleger-se senador, ver Dilma presidente, Ana reeleita, com um pmdebista na vice, preparando o caminho para 2014. Mas Jáder conhece a natureza escorpiônica do PT, sabe que Dilma pode perder e que o governo Ana, por si só, não atende a demanda gigantesca do PMDB por cargos com poder orçamentários. Jáder está nos piores do mundo. Mesmo que ganhe com Ana, pode perder a máquina federal, que é a maior e mais importante máquina orçamentária dentro do estado.
10- Ana Júlia, quando acordar do sonho do PMM do B, terá as grandes correntes do PT, empenhadas em sobreviver eleitoralmente. No PT todos enxergam o exclusivismo do núcleo duro dos “meninos estadistas” da governadora. Ana só poderá contar com a máquina do estado, com seu comitê de gente com DAS, e mendigará pelo apoio de Jáder e Dudu. Triste destino de um partido tributário de uma militância orgulhosa e mobilizada ideologicamente. Ana teria de fazer em 4 meses, dentro do PT e da sociedade civil petista do estado, o que não fez em 33 meses de gestão.