Carta aberta aos candidatos Regina e Licurgo

* Por Edir Veiga

Caros candidatos à Reitoria da UFPA, Regina e Licurgo. Li atentamente seu texto levado a conhecimento de toda Universidade Federal do Pará. O texto, por excelência eleitoral, capitaliza, de forma arrogante, todas as conquistas da gestão do período 2001-2008, à vossa chapa, como se as eleições vencidas pelo atual reitor, fossem algo fora de contexto das lutas políticas e dos sacrifícios de muitas pessoas, inclusive muitas das quais, não estão apoiando as vossas candidaturas. Confesso que me senti excluído da história política de nossa universidade, e creio que outros atores políticos, assim também estão se sentindo.
Professores Regina e Licurgo, vocês talvez não tenham idéia de quantos dias e madrugadas eu, Marcos Vinícius, Jefferson Galvão e outros atores políticos, passamos, no confronto eleitoral de 2001, elaborando textos, articulando as distribuições nos portões, enfim travando a necessária luta de opinião pública no interior da UFPA. Além deste apoio intelectual e logístico, ajudamos a agregar à candidatura Alex, tanto de 2001 como em 2005, o inestimável e insubstituível apoio de militantes do movimento estudantil e sindical universitário, que são os atores que discutem, mobilizam e fazem a campanha militante acontecer, ou seja, é aquele apoio com base programático e apaixonado.
Caríssimos candidatos, apesar de não tê-los vistos na batalha de 2001, creio que se vocês pelo menos imaginassem os bastidores das duas eleições do prof. Alex, não nos chamariam de retrógrados, atrasados, caçadores de cargos ou coisa do gênero. Aliás, em 2001 vocês dois apoiaram para reitor, de forma militante o candidato Maneschy, que hoje vocês denominam de atrasado e retrógrado.
Li também atentamente, a forma como vocês comparam os oito anos da gestão do prof. Alex com os quatro anos dos demais ex-reitores da UFPA, e aí vocês cometem um grave erro teórico. Como doutores vocês deveriam saber que a comparação entre dois eventos, sejam históricos ou não, devem obedecer a padrões metodológicos rígidos. Ou seja, não se pode comparar quatro anos de um reitor com oito anos de outro. E mais, não se podem comparar administrações distintas sem analisar o contexto histórico, político-governamental e econômico sob os quais estava submetida a universidade brasileira, a UFPA em particular.
Prezados professores Regina e Licurgo. Existe uma brutal diferença entre os governos, Collor, FHC e Lula, em relação ao tratamento dado aos serviços públicos e às universidades federais. Os dois primeiros aplicaram uma clara política de desmonte das instituições públicas, enquanto o último, ou seja, Lula, vem recuperando os investimentos do Estado nos serviços públicos e nas universidades. É só compararmos as verbas de OCC ( Outros Custeios e Capitais) para as universidades nestes governos e veremos as brutais diferenças entre um governo liberal de FHC e um governo social como o de Lula.
Caros candidatos, para tirarmos as provas dos nove é só verificarmos o fluxo de verbas em direção à UFPA nos anos de 2001 e 2002, que coincide com os últimos 24 meses do governo FHC e com os primeiros dezoito primeiros meses da gestão Alex, e vocês compreenderão como as opções políticas do governo federal atingem as IFES.
A universidade se transformou em um canteiro de obras na era Lula e com ela Alex, em oito anos de gestão, se transforma em um dos maiores ampliadores das áreas físicas de nossa universidade. Mas não dá para comparar oito anos de gestão de um reitor, na era Lula com 04 anos de outro reitor na era Collor ou FHC.
Não esqueçam também meus caríssimos candidatos, do papel político-sindical e acadêmico da FASUBRA, da ANDES, da UNE e da ANDIFES, que historicamente lutam por mais verbas para OCC, por mais concursos públicos para docentes, técnico-administrativos, por mais vagas noturnas para estudantes e pela ampliação do número de universidades federais no Brasil. O lócus para tingir estas reivindicações, sem dúvida nenhuma, é no contexto de governos democráticos, sociais e que reconhecem a importância dos movimentos sociais, na luta pela melhoria dos serviços públicos e da qualidade de nossas instituições educacionais públicas.
Caros Professores Regina e Licurgo. Respeito-os. Acho suas candidaturas legítimas, mas acreditem; vocês não são os únicos e nem os mais importantes depositários das conquistas de nossa UFPA na era Alex. Por trás das vitórias de Alex em 2001 e 2005, existe um exército de pessoas: acadêmicos, lideranças estudantis, e técnico-administrativas que carregaram este estandarte, e que hoje apóiam a candidatura Maneschy-Schneider e que não abrem mão de se sentirem como partes das vitórias de 2001-2005.
Não estou agora contra o Reitor Alex, porque sempre apoiei suas gestões. Alex não é mais candidato, mas como cidadão tem todo o direito de apoiar vossas candidaturas, mas este já é outro assunto. Alex é cidadão e deve assumir suas posições político-acadêmicas que achar que são as melhores para a universidade. Mas creiam, todo o movimento social que apoiou Alex em 2001 e 2005, hoje apóia Maneschy-Schneider.
E para finalizar, lembro que as políticas de infra-estrutura física, expansão de cursos e vagas públicas, o aumento do número de mestres e doutores, a criação de novos mestrados e doutorados e a interiorização da UFPA é uma obra de cinco décadas, impulsionadas a partir do fim da ditadura militar em 1985. O estágio atual da UFPA é obra de todos os ex-reitores de nossa universidade e de muitos docentes, técnicos e estudantes, que lutaram pela defesa do ensino universitário público e gratuito e pela melhoria de nossa universidade. Aliás, muito foram presos, torturados e até perderam a vida nesta empreitada, durante os anos de chumbo.

Saudações acadêmicas e um bom combate no pleito de 03 de Dezembro.

*Edir Veiga- Prof. Dr. em Ciência Política da UFPA, ex-militante do DCE e SINTUFPA e que não ocupou cargos na gestões Alex e nem pretende faze-lo na Gestão Maneschy, por opção acadêmica, mas que não abre mão de participar das lutas políticas e acadêmicas na UFPA, por pura convicção cidadã.