Orlando Silva: Rio aposta na emoção em reta final por 2016

COPENHAGUE - A emoção é a aposta final do Rio de Janeiro para conquistar a Olimpíada de 2016, e estará presente tanto no último vídeo da apresentação da cidade, como no discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará aos eleitores do Comitê Olímpico Internacional (COI).
A última apresentação de Rio, Chicago, Tóquio e Madri antes da votação de sexta-feira é vista como decisiva para conquistar eleitores ainda indecisos. A escolha pela sensibilização foi tomada porque o Rio acredita já ter provado sua capacidade técnica de receber o evento, disse o ministro dos Esportes, Orlando Silva Jr, nesta quarta-feira.
Em entrevista à Reuters a caminho da capital dinamarquesa, onde se encontrará com o presidente Lula e as demais autoridades da campanha do Rio, o ministro disse ainda que os Jogos criarão 120 mil empregos no país até 2016 e afirmou que um eventual sucesso olímpico não será utilizado politicamente na eleição presidencial de 2010.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
RETA FINAL DE CAMPANHA
O nosso sentimento geral é de dever cumprido. Nós percebemos que tudo que era possível ser feito foi feito. Nos dá muita satisfação o fato de a avaliação técnica feita pelo COI ter indicado que o projeto do Rio é um projeto consistente, forte, que dá segurança ao COI que podemos realizar a Olimpíada.
Até aqui nós consumimos muito esforço com o trabalho técnico, porque ainda existia algum tipo de desconhecimento com relação ao Brasil, então nós precisávamos demonstrar capacidade de realizar. Os outros concorrentes já realizaram Jogos Olímpicos, mas o Brasil nunca, então ficamos muito focados em demonstrar tecnicamente a consistência da nossa proposta, a sustentabilidade dos nossos projetos.
"SENSIBILIZAÇÃO"
Agora é a hora da última sensibilização. Vamos ter uma abordagem para valorizar o emocional, valorizar o futuro, a perspectiva, a ideia de legado para a juventude que o COI pode deixar para o Brasil.
O presidente Lula tem um discurso formado, mas pode mudar algumas coisas. Parte da abordagem dele também vai tratar o novo posicionamento do Brasil no cenário internacional, e esse novo posicionamento se combina inclusive com um protagonismo internacional. Demonstrar que entre as 10 maiores economias do mundo apenas o Brasil nunca realizou Jogos Olímpicos é sinal de que há algo a ser feito.
EFEITO OBAMA
Essa decisão em Copenhague ganhou um brilho com a presença dos chefes de Estado. É a primeira vez que um presidente dos EUA participa de uma sessão do COI. Como se trata da maior potencia do planeta, isso eleva muito em patamar a importância dessa decisão. Mas, na minha percepção, não (desequilibra a disputa para Chicago).
O presidente Barack Obama, o primeiro-ministro do Japão, Yukio Hatoyama, o primeiro-ministro da Espanha (José Luiz Zapatero) e o rei Juan Carlos são personalidades mundiais muito importantes, como também é muito importante o presidente Lula, uma personalidade de grande repercussão internacional.
A presença do presidente Lula equilibra a disputa do ponto de vista de peso político e liderança internacional.
No entanto, mais importante que a presença dos chefes de Estado, é conversarmos com cada membro do COI. São eles que vão decidir.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
A realização da Olimpíada é um grande investimento para o país, que trará um retorno econômico. Percebemos que com a realização dos Jogos Olímpicos, a preparação até 2016 vai produzir 120 mil novos empregos no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento da economia nacional. E percebemos que, dos Jogos até 2027, vai haver 130 mil novos empregos, porque uma série de demandas, como no caso do turismo, vão impactar positivamente a economia.
Outro número: para cada real investido pelo governo na Olimpíada, vai haver 3,2 reais de investimento privado, porque o governo inicia o investimento, mas há toda uma cadeia produtiva que será ativada.
GANHO ESPORTIVO
Acredito que sobretudo vai impor um tema que o Brasil ainda precisa consolidar, que é vincular o esporte à educação. Essa é uma debilidade importante que nós temos, e creio que haverá uma grande mobilização nacional para promover um desenvolvimento no conjunto do esporte brasileiro.
Todo país do mundo relevante do ponto de vista esportivo tem na escola a formação da base dos talentos e na universidade um espaço prioritário de competições de bom nível e preparação desses atletas para grandes competições internacionais.
ELEIÇÃO 2010
Os compromissos firmados pelos governantes são compromissos firmados entre o Estado brasileiro e a Fifa (no caso da Copa do Mundo de 2014), do Estado brasileiro com o COI. Independentemente do governante de momento, o compromisso é do Estado brasileiro. Não seria nem correto fazer uma caracterização política da campanha olímpica. Será uma vitória do Brasil.

Pedro Fonseca, REUTERS