Operadoras revelam a CPI que foram feitos 409 mil grampos telefônicos em 2007

Em O Globo

BRASÍLIA - As operadoras de telefonia informaram nesta quinta-feira à CPI do Grampo na Câmara que foram realizados no país, apenas em 2007, 409 mil escutas em linhas fixas e celulares com autorização judicial. Os números - quase 1.120 pedidos a cada dia - surpreenderam os deputados da comissão, que falaram em abuso no uso de grampos em investigações. Foram ouvidos representantes das seis empresas que atuam hoje no mercado.

- É um número estarrecedor, muito maior que poderia se imaginar. A grande pergunta que fica é: quem é capaz de controlar isso tudo? Na minha opinião, ninguém - disse o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB), ex-secretário de Segurança do Rio e ex-superintendente da Polícia Federal no estado.

As empresas disseram à CPI que montaram esquemas de segurança para evitar o vazamento das escutas. A diretora jurídica da Claro, Tula Peters, afirmou que a operadora criou um setor específico para fazer as interceptações telefônicas. A equipe, segundo ela, trabalha em uma sala vigiada por seguranças e câmeras. Disse também que os funcionários são treinados para evitar vazamentos.

Apenas a Telefônica disse ter encontrado escutas clandestinas em suas linhas. Segundo a empresa, em 2007 foram registrados 26 casos, todos em São Paulo. O secretário-geral da Telefônica, Gustavo Fleichman, afirmou que, em todos os casos, a companhia acionou a polícia paulista.

A TIM recebeu em 2007 o maior número de pedidos de interceptações: 235 mil. Em seguida, vieram Vivo (92 mil); Claro (33 mil); Brasil Telecom (27 mil); Oi (20 mil); e Telefônica (2,6 mil). As escutas podem ser solicitadas pelas polícias civis estaduais e pela Polícia Federal, mas precisam ser autorizadas por um juiz.

A CPI do Grampo investiga, entre outras coisas, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram alvos de grampos ilegais.

A tentativa de grampo contra Lula teria ocorrido em 2006, no Rio, quando ele se hospedou no Hotel Glória. A suspeita foi levantada por um ex-funcionário da Telemar. Em depoimento à comissão, José Luiz da França Neto disse que um técnico de empresa terceirizada teria encontrado indícios de violação da linha telefônica instalada para uso do presidente.

Já a tentativa de grampo contra Fernando Henrique foi denunciada pelo gerente de Relações Institucionais da Oi Fixo (ex-Telemar), Arthur Madureira de Pinho. Ele disse à CPI que o ex-presidente foi alvo de tentativa de escuta ilegal durante viagem a Petrópolis (RJ), quando ocupava a presidência. Pinho disse que técnicos encarregados de instalar as linhas para o presidente encontraram dois gravadores conectados aos fios telefônicos horas antes da chegada de Fernando Henrique.