A esquerda, a cultura política e as eleições de 2010 no Pará

Muita gente pode estar pensando, caramba por que o Edir Veiga está, ferozmente criticando o governo Ana Júlia, por que não balanceia o primeiro governo Jatene? estaria o analista empenhado na votação do tucano?

Caros:

Dos meus 50 anos, estive entre os 18 e os 42 anos empenhado numa utopia política, num sonho generoso de transformar o mundo em favor dos mais necessitados. Este sonho generoso era hospedado no Partido dos Trabalhadores. No projeto de mundo constava as transformações nas relações pessoais, sociais, políticas, culturais e ético-morais. Afirmava-se: "o mundo que nós projetamos deve ser vivido no cotidiano por cada um de nós".

O diferencial entre o ser alienado, individualista e competitivo da sociedade civil capitalista deve ser substituido pelo cidadão participativo, solidário e republicano da futura sociedade civil socialista. A grande contribuição que traríamos às relações políticas na disputa pelos governos seria uma prática pautada na transparência, participação popular, governança e republicanismo. Enfim, construiríamos uma nova cultura política, nas relações com o Estado e a sociedade, visando romper com toda nossa tradição histórica, herdado dos tempos da Colônia e do Império, como nos falam Oliveira Viana, Maria Izaura de Queiroz e José Murilo de Carvalho, que se caracterizava pelas relações patrimonialistas com estado, e com os interesses particulares se sobrepondo aos interesses públicos.

Quando o governo Ana Júlia chega ao governo do Pará nada disso viemos a assistir, pelo contrário, foi introduzido o que tem de pior no estilo de governar, senão vejamos:

1- Centralização política, administrativa e orçamentária dentro do núcleo duro de governo, formado pelos "meninos de ouro" da governadora.
2- Monopólio do poder político e administrativo frente ao PT. O PT, como os demais partidos da base, tinham cargos, mas não participavam, efetivamente das decisões de governos. Não planejavam e não sabiam quais eram os rumos a serem seguidos.
3-Péssimas relações com o legislativo
4-Incompetência de gestão das informações políticas de governo
5- Incapacidade produzir um marketing das obras e serviços do governo durante 40 meses
6- incapacidade de dar respostas aos 19 escândalos políticos que assolaram o governo Ana Júlia
7-Denúncias de relações pouco republicanas para conquista de apoios no segundo turno, e assim por diante
8- Denúncias de boca de urna paga assolando todo o Pará.

Aí recebo posts, do tipo, mas os tucanos fazem prática mais ou menos semelhantes e tu nada falas. Aí eu respondo:

Mas o PSDB nunca prometeu, como o PT, um paraíso terrestre nas relações com a política e com o Estado. O PSDB nunca assumiu utopias revolucionárias, como o PT as assumiu, e aglutinou milhões de jovens, como eu. E para finalizar, quero dizer que é a DS/PMM do B, que de fato estão queimando o filme do PT no Pará, e o que é pior, as correntes majoritárias, assistiram este descalabro político e administrativo, passivos, mesmo sabendo no que isto iria dar. Por que não substituiram a candidata para as eleições de 2010, se todos já percebiam o desastre que seria a reeleição?

Portanto, só tenho a cobrar do governo Ana Júlia, a distância entre a teoria e a prática.

Hoje, após 4 anos de governo Ana Júlia no Pará, eu, como um dos apoiadores de sua eleição em 2006, me olho no espelho e penso "fica vermelha, cara sem vergonha". É assim que eu me vejo perante as pessoas sérias que sempre acreditaram no projeto do PT para o Pará.

Tenho dito.