Às vésperas de voltar ao Senado, o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia afirmou nesta sexta-feira à Folha Online que está "tranquilo" para retomar suas funções. Apontado como pivô das irregularidades administrativas da Casa nos últimos 14 anos, o ex-diretor afirmou que nada foi provado contra ele e que não acredita que seja demitido pela Comissão de Sindicância que apura a sua responsabilidade na edição dos atos secretos.
Agaciel disse ainda que vai "provar com a verdade" que nunca cometeu ilegalidade à frente da Diretoria Geral. "Eu estou tranquilo para voltar ao trabalho. Eu sou funcionário da Casa vou cuidar das minhas atribuições normais de servidor. Se você fizer uma retrospectiva, nada se provou. Minha defesa é só a verdade. Agora, o que é massificado pela mídia, depois fica difícil provar o contrário", disse.
O ex-diretor retorna ao trabalho no dia 28 de setembro sem que os processos administrativos a que responde tenham avançado. Nos bastidores, aliados do ex-diretor já trabalham para que ele seja aposentado, numa sinalização de que Agaciel possa ser poupado da penalidade máxima na conclusão dos processos que é a demissão do serviço público.
Para Agaciel, a denúncia de que teria comandado o esquema que evitou a publicidade de demissões administrativas utilizadas para criar cargos, nomear e exonerar parentes de senadores e reajustar benefícios não justificam a sua exoneração do Senado. "Não é questão de ser demitido? Demitido por quê? Eu não vou falar disso. Existe uma comissão apurando", afirmou.
O ex-diretor --que deixou o cargo em março depois que a Folha revelou que ele usou um irmão para esconder da Justiça a propriedade de uma casa avaliada em cerca de R$ 5 milhões sustentou que nenhuma denúncia foi comprovada.
Agaciel voltou a dizer que foi vítima de uma disputa entre dois grupos políticos da Casa com a volta do senador José Sarney (PMDB-AP) à presidência. "Vocês falaram o negócio da casa e eu provei que estava declarada. Depois disseram que eu estava chantageando senadores. Simon [senador Pedro Simon (PMDB-RS)] e Suplicy [senador Eduardo Suplicy (PT-SP)] disseram que era mentira. Tudo é mentira. Não tem nada, não fiz nada, não tem nenhuma ilegalidade. Eu nunca fiz nada de ilegal. Como eu já disse fui vitima de briga política dentro da casa", disse.
Agaciel ficou 90 dias afastado do Senado, com licença remunerada. O benefício tem previsão legal. O ex-diretor volta a ocupar uma vaga no ILB (Instituto Legislativo Brasileiro), mas pode ser requisitado para a gráfica, seu berço político. Segundo o ex-diretor, ele vai continuar trabalhando na elaboração de um dicionário biográfico dos 1.308 parlamentares que já passaram pelo Senado. Dois volumes já estão prontos.
"Eu vou continuar o dicionário biográfico do Senado. Apesar de dizerem que não estou trabalhando, aproveitei essa licença, que tem respaldo legal, para avançar nesse dicionário e estou com dois volumes prontos. A vida segue normal", disse.
Os processos que correm internamente contra ele apuram seu envolvimento na edição dos atos secretos. Após 60 dias de investigação, a comissão criada pelo comando do Senado para decidir se o ex-diretor-geral vai ser punido pediu prorrogação dos trabalhos até novembro.
A justificativa é que a defesa de Agaciel tem lançado mão de manobras jurídicas para atrasar o processo. Os advogados conseguiram, por exemplo, que ele só fosse ouvido depois de o Senado entregar cópia dos 511 atos secretos para uma espécie de perícia e na sequência do depoimento de todas as testemunhas.
Em outra frente, a Polícia Legislativa ainda espera autorização da Justiça para prorrogar o inquérito que investiga a nomeação sigilosa de uma servidora no gabinete do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) que teria ocorrido pelas mãos do ex-diretor-geral. Os policiais do Senado dizem que não podem decidir se pedem o indiciamento de Agaciel porque ainda precisam fazer um exame grafotécnico para confirmar se as assinaturas nos atos secretos são realmente do ex-diretor.
Nós últimos meses, Agaciel tem dificultado as investigações contra ele. Apesar de circular pela noite de Brasília, frequentando restaurantes de luxo, familiares informaram à Polícia do Senado que ele não estava na cidade para receber intimação.
MÁRCIO FALCÃOda Folha Online, em Brasília