Bispo diz que há 300 pessoas "marcadas para morrer" no Pará

da Agência Brasil Com Folha Online

O bispo da Diocese da Ilha de Marajó (PA), dom José Luiz Azcona, disse hoje que 300 pessoas que vivem no interior do estado do Pará estão sendo ameaçadas de morte por terem denunciado casos de tráfico de seres humanos, exploração sexual de crianças e adolescentes e pedofilia.

O número foi apresentado hoje em reunião extraordinária do CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).

Azcona é um dos quatro religiosos ameaçados de morte no Estado. "Não me preocupa tanto a minha segurança pessoal. Se existem 300 homens e mulheres marcados para morrer, isso indica uma sociedade doente, pobre e moribunda", criticou.

Azcona afirmou que o governo do Pará, apesar de ter conhecimento do número, ainda não tomou providências para reduzir os casos.

Dos 300 ameaçados de morte, apenas 100 estão sob proteção do governo federal, segundo o bispo. "Tem que ter uma mudança de mentalidade, uma conversão. [É preciso] Olhar para a Amazônia como a Amazônia é, não com os olhos de Brasília."

O bispo disse ainda que há conivência de autoridades locais em casos de "prostituição, tráfico e consumo de drogas e uso de bebidas alcoólicas entre os jovens".

No mês passado, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) informou que iria denunciar internacionalmente as ameaças de morte que bispos vem recebendo no Pará. A CNBB pede que as autoridades protejam os ameaçados e investiguem as denúncias.

"Exigimos investigações sérias e proteção para os ameaçados. Suas vidas são preciosas para o povo que defendem e para nós que lhes somos solidários", informou a CNBB em nota oficial.

A declaração de Azcona acontece no mesmo dia em que os acusados de participar do planejamento da morte da missionária Dorothy Stang voltam a ser julgados no Pará. Vitalmiro Bastos de Moura e Rayfran das Neves Sales já foram julgados e condenados. Como as penas ultrapassaram 20 anos, os advogados de defesa dos réus apelaram por novo julgamento.

Dorothy Stang foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005, em Anapu (PA). Ela foi morta aos 73 anos com seis tiros quando se dirigia a uma reunião com agricultores no interior de Anapu. Ela era americana naturalizada brasileira e atuava havia 40 anos na organização de trabalhadores no Pará.

De acordo com a Promotoria, a morte dela foi encomendada porque a missionária defendia a criação de assentamentos para sem-terra na região, o que desagrava fazendeiros.

Sua morte foi encomendada por fazendeiros pelo valor de R$ 50 mil, segundo as investigações da polícia.