Sarney, o PT e o senador celestial

O senador Flávio Arns anunciou a provável saida do PT após o arquivamento do pedido de abertura de processo contra Sarney na CCJ do senado. Arns argumentou que está no lugar errado por ter PT jogado a ético no lixo.

Max Weber em Ciência e Política : duas vocações, faz uma clara diferença entre a ética do intelectual e a ética do político. A ética do intelectual deve primar pela convicção, ou seja, para assumir o papel social de intelectual deve-se despreender de laços partidários e governamentais para que a ética da convicção não venha a se submeter a constrangimentos do jogo do poder político.

Já quem resolve entrar na arena política-partidária e governamental deve primar pela ética da responsabilidade, ou seja, o partido e os políticos que compõem a coalisão governante devem agir para que o governo atinja seus objetivos políticos. É a chamada ética da responsabilidade.

No episódio Sarney o governo firmou posição em torno da defesa do mandato Sarney no senado, tendo como base explicativa as consequências políticas de um possível afastamento do PMDB da base governista.

O senador Arns está colocando a ética da convicção acima da ética da responsabilidade, está confundindo o papel de agente político com o papel de intelectual.

Não estou entrando no mérito se a convicção de Arns está certa ou errado, estou dizendo que neste caso a orientação partidária foi a bússola clara para a tomada de decisão do PT no senado.

Portanto Arns está exacerbando em sua posição e acabará por sair do PT. Mas eu pergunto qual é o partido na política brasileira que deixa a ética da convicção suplantar a ética da responsabilidade? se este partido existisse não seria mais um partido, mas uma confraria religiosa e jamais teria chance de disputar o poder político na terra, talvez no céu esta confraria disputasse melhor o poder.

Portanto, quem quizer militar em uma organização coletiva como um partido deve saber que existem fóruns de deliberações coletivas e que ao final é o paritdo quem fala, principalmente em episódios considerados centrais para a sobrevivência do partido na direção do governo. Ao final o senador sairá e se sentirá perdido num mar partidário onde o PT não é pior do que nenhum outro no espectro político-partidário brasileiro.