Em entrevista concedida ao jornalista Osvaldo Coimbra o ex-Reitor Alex Mello falou sobre as realizações de sua gestão no período 2001-2009. O Bilhetim entrevista, neste momento, o Engenheiro Marcus Vinicius Menezes Neto, técnico responsável pela condução de muitas das realizações da Prefeitura da UFPA no período.
Bilhetim – Marcus Vinicius, diga aos leitores do Bilhetim por quanto tempo você trabalhou na administração de Alex.
Marcus – Edir, foi na sua presença, em Brasília, ainda em junho de 2001, que o Prof. Alex determinou, pessoalmente, que eu auxiliasse o Prof. Edison Farias na Prefeitura. Inicialmente como assessor de gabinete e, a partir de fevereiro de 2002, na função de Diretor do Departamento de Meio físico – DEMEF. Depois, em 2005, a uma semana da posse fui convidado pelo reitor para assumir a função de Prefeito. O acerto somente foi concretizado às 17:00 h, na véspera da posse da nova equipe.
Bilhetim – E a que você atribui essa situação?
Marcus – Em julho de 2005 a Prefeitura não figurava como órgão da Administração Superior. O CONSUN não a incluíra no novo Estatuto. Eu, inclusive, coordenava uma reação àquela decisão. Quanto à escolha do reitor, penso que ele já conhecia suficientemente o meu perfil político, profissional e ético, e minha capacidade de realização. Você sabe, porque pesquisou, que a melhor avaliação de primeira gestão de Alex era sobre a temática relacionada ao espaço físico que se encontrava sob minha coordenação. Ou a avaliação do reitor era positiva ou ele não tinha nenhuma outra opção. Aliás, o reitor chegou a consultar a equipe da Prefeitura sobre sua preferência. Meu nome encabeçou uma lista tríplice, com aceitação quase unânime na unidade. Quanto ao convite de última hora, isso pode estar relacionado a um constrangimento de natureza pessoal entre o reitor e o prefeito, amigos de longas datas.
Bilhetim – Ou seja você aceitou o convite para ser prefeito num dia e assumiu no outro? E como ficou o planejamento e a formação de sua equipe?
Marcus – Assumi apenas duas horas úteis depois da aceitação. Os demais membros da equipe da Administração Superior tiveram cinco meses para planejar e formar suas equipes. Só foi possível cobrir essa defasagem com uma razoável sobrecarga de horas de trabalho.
Bilhetim – Mas voltemos ao 1º quadriênio. O que foi feito de relevante naquele momento?
Marcus – Eu considero aquele primeiro momento bastante profícuo, apesar de um ano e meio de baixos investimentos do governo federal e, do primeiro ano do governo do Lula, que ainda não estava bem “encaixado”. Uma greve de julho a dezembro de 2001 não permitiu que a UFPA se ressentisse de um início de gestão que contou com apenas algo em torno de 5% do orçamento anual para o custeio de metade do ano, e mais nada em capital. Nosso esforço de planejamento foi recompensado. O Eixo Estruturante “Ambiente Adequado” do PDI-2001/2010 ficou sob nossa coordenação. Lá incluímos todo o Norte das duas gestões de Alex. Depois, com a criação do PROINFRA, dos R$ 1.800.000,00 do primeiro ano, colaboramos com R$ 980 mil, somente de economias dos contratos de limpeza e vigilância, sem redução de qualidade nessas atividades.
Iniciamos as obras de recuperação da infra-estrutura. As reformas da Biblioteca Central, dos pavilhões de aula do Básico, do Laboratório de Farmácia, do Laboratório de Engenharia Química, do Laboratório de Química (Ensino), da Reitoria e da Prefeitura e da nova Clínica de Psicologia; as ampliações do CCEN, do CFCH e da Engenharia Elétrica; as construções dos novos pórticos de acesso e das novas passarelas; a construção do Laboratório de Microscopia Eletrônica do CCB, dos Laboratórios de Análise de Combustíveis, de Análise e de Fármacos (Química), o início das obras do prédio do CCJ e do CACON no HUJBB. E mais ainda. No interior, a construção da Biblioteca e Auditório de Castanhal e de Altamira, a reforma e ampliação do CEDIVET (Castanhal), dentre inúmeras outras reformas menores. Reformamos de forma consistente a área do 1º incêndio do CCB. Grande parte dos recursos foram extra-orçamentários, com projetos elaborados sob nossa coordenação. É dessa época a captação de recursos para a expansão dos campi de Bragança, Castanhal, Marabá e Santarém.
Tive também o prazer de ser co-autor dos projetos de arquitetura do CCJ e das novas passarelas, elaborados nesse período.
Mas, eu diria que, do ponto de vista organizacional, iniciamos a corrida para um grande salto. Elaboramos o plano da manutenção predial, que reduzia substancialmente os prazos para o início das manutenções e ampliava o controle das unidades sobre esses serviços.
Quando substituímos o prefeito por oito meses, enquanto ele escrevia sua tese de doutoramento, projetamos e realizamos a fusão do DEMA e do DEMEF no DEINFRA e criamos o Departamento de Segurança, a Divisão Ambiental e a Divisão Logística. Foi uma medida experimental uma vez que não havia como remunerar mais uma direção. As ações planejadas para o DESEG foram sendo incrementadas e os dados estatísticos, a cada nova avaliação eram melhores. O esforço estava sendo recompensado. Inovamos e reduzimos as contas telefônicas a 1/3 do valor anterior, sem reduzir o número de chamadas. Auxiliamos na elaboração do Código de Posturas e também iniciamos a renovação da frota de veículos.
A nova Divisão Ambiental mostrou a que veio e iniciou o processo de segregação dos resíduos e iniciou o projeto para o tratamento dos resíduos perigosos. A arborização também ganhou nova ótica e iniciaram-se as substituições das velhas palheteiras por ipês brancos e rosas, doados pelo meu vizinho e por mim.
Bilhetim – Surpreendente! Desse cenário à cabeça da Prefeitura. Quanto tempo você ficou lá? O que realizou?
Marcus – Dois anos e quatro meses. Mas, Edir, parece que tudo aquilo não foi suficiente para convencer o CONSUN. A primeira grande tarefa no extinto, e ocupado, cargo de Prefeito, era criar condições políticas para resgatar a Prefeitura que não mais existia no novo Estatuto. Não nos preocupamos com os interesses que haviam levado àquela situação, nem, muito menos, com quem capitaneara aquele movimento, embora em um debate ocorrido no Auditório do Básico com o reitor, tenha ficado claro que ele próprio advogava a tese de extinção da Prefeitura. Fomos vitoriosos, com algumas vantagens sobre o status anterior. A Prefeitura que somente tinha assento no CONSAD e CONSUN, sem direito a voto, passou a ter assento e voto nos três conselhos superiores. Sobre esse assunto cabe um agradecimento ao Prof. Horácio Schneider, atual Vice-Reitor, cujo apoio foi determinante para a decisão.
Bilhetim – E as realizações?
Marcus – O trabalho iniciou com a garantia de orçamento próprio sob o controle da Prefeitura, para todas as atividades relacionadas às suas competências no âmbito da Administração Central. Nossas unidades aprenderam a elaborar seus próprios orçamentos. A ótica era de uma administração compartilhada, participativa e democrática. Não havia segredos. Todos os colaboradores tomavam ciência dos projetos e atos da Prefeitura. Isso garantia compromisso e colaboração, em um ambiente de insuficiência de quadros e de baixíssimos salários, notadamente do pessoal de nível superior.
Iniciamos o contrato de manutenção predial, auxiliamos em todas as captações do CTINFRA que diziam respeito a reformas e obras, reformamos todas as salas de aula do Setor Profissional, construímos estacionamentos no CG, no CCB, no CSE e CCJ, no NUMA, na Engenharia Civil e nos campi I e II de Marabá e ainda aqueles da avenida que vai do Ginásio de Esportes à Capela, antecipando a organização do espaço para a implantação do grande Auditório. Reformamos o Campus de Cametá, construímos pavilhões de aula e de laboratórios em Abaetetuba, Bragança, Marabá I e II e Santarém, ginásio, piscina e outras instalações desportivas em Castanhal, alojamento em Altamira, guaritas e muros em Soure e Abaetetuba. Ampliamos a Psicologia Experimental e construímos um outro Laboratório para a Psicologia e o prédio do curso de História. Consolidamos o projeto arquitetônico do NPADC e iniciamos sua construção. Reformamos os prédios do DERCA/DAVES, do SECOM, do Laboratório de Física, do NPI, do Restaurante e a Capela. Ampliamos o DEPAD e o CAPACIT e adaptamos para a Gráfica. Construímos o Laboratório de Fármacos, o Laboratório da Meteorologia e todas as novas passarelas cobertas do Campus Básico, exceto a da entrada principal, que havia sido reformada há pouco tempo pela Assoc. dos Amigos. Ampliamos o CG. Apoiamos com suporte técnico o HUJBB na área de obras e de serviços terceirizados. Iniciamos as obras do Campus da Medicina Veterinária em Castanhal, do Auditório de 1000 lugares, da Educação à Distância, da ampliação do CLA, do NUMA e de passarelas nos setores Profissional e IV (Saúde). Criamos o Comitê Gestor de Resíduos Perigosos e lançamos a agenda A3P na UFPA, abrindo caminho para a coleta seletiva solidária. Instalamos lixeiras em todos os campi. Trocamos as velhas palheteiras por mais de 1400 ipês e ylang-ylangs, adicionando flores e perfume ao cenário. Melhoramos a manutenção preventiva e os controles de utilização de veículos. Renovamos a frota e adquirimos um ônibus para viagens interestaduais. Instalamos o sistema de alarme monitorado. Implantamos duas novas inspetorias de vigilância. Instalamos uma nova central telefônica. Cuidamos da Infra-estrutura da SBPC e aprontamos o campus para a efeméride dos 50 anos.
Demos a ordem de serviço para o início das obras das novas calçadas, em pavimento articulado e deixamos em licitação o restante das passarelas cobertas do setor Profissional, o Laboratório de Resíduos, a ponte de pedestres sobre o Igarapé Tucunduba, mais um pavilhão de salas de aula para Bragança, pavilhões de aula e laboratórios para a Medicina Veterinária e o Teatro Experimental.
Bilhetim – E o que estava planejado e não foi realizado?
Marcus – Quando deixamos a Prefeitura, no início de outubro de 2007, encontrava-se em gestação em nossa desktop o termo de referência para a contratação de projetos, e toda uma regulamentação sobre fiscalização de obras. Havíamos feito os primeiros contatos com o INPH – Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias do Ministério dos Transportes, para que com sua expertise elaborasse, com ônus reduzido, o projeto da recuperação da orla. Havíamos também iniciado as negociações com o GPHIS, do ITEC, para a elaboração do projeto de esgoto sanitário do campus.
Nosso projeto de comunicação com monitores de LCD de 60”, interligados à intranet foi substituído pelos frontlights, cuja produção é cara e, portanto, inacessível, notadamente à categoria discente.
O acesso viário da Biblioteca Central ao ICB e o contorno viário do Laboratório da Engenharia Civil também estavam previstos, o primeiro, inclusive com orçamento aprovado para 2008, mas não foi realizado.
E o novo prédio do ICB. Já havia, inclusive, R$ 1.800.000,00 para o início das obras em 2008, mas também não foi realizado.
Parte das passarelas de acesso ao Hospital Betina, a esplanada da Reitoria à Biblioteca Central e uma nova calçada em frente ao prédio do CEPS (DAVES) e do CIAC (DERCA), embora contratadas, não foram executadas pela gestão que me sucedeu.
Bilhetim – E aquela situação acerca das calçadas citadas pelo ex-reitor em sua entrevista?
Marcus – A Associação dos Amigos contava com uma doação mensal de mais de 200 sacas de cimento por mês e já havia iniciado a construção das calçadas em concreto desempenado, ali pelas imediações dos pavilhões de aula do Setor Básico. Mas o reitor desejava que fossem feitas calçadas com pavimento articulado. Argumentamos favoravelmente à execução de todas as calçadas pela Associação dos Amigos, com a mesma tecnologia já iniciada, mas o reitor determinou que fossem realizadas em pavimento articulado. O orçamento somou mais de R$ 1 milhão. Quando da licitação, várias empresas reclamaram que havia cláusula restritiva a suas participações. Eu me pronunciei oficialmente contrário à cláusula que, de fato, era restritiva e abusiva. Um engenheiro da Prefeitura informou a uma procuradora que a licitação estaria viciada para beneficiar uma empresa do Grupo ESTACON e formou-se uma fofoca. A Comissão de Licitação foi obrigada a rever a tal cláusula. A tal empresa foi desclassificada. Deixei a Prefeitura quando a empresa vencedora estava mobilizando para o início das obras, e considero que o ex-reitor tem razão quando diz que as calçadas estão muito mal feitas e vão ensejar grandes custos de manutenção. Mas me admiro ao vê-lo defender que “desejava atrair empresas de produção industrial de bloquetes”. Ora, os bons pavimentos articulados produzidos nas boas indústrias podem ser adquiridos por qualquer empresa, sem que seja necessário que a indústria execute o serviço. Penso que a fiscalização exigiu pouco. Esse foi o problema.
Bilhetim – E qual é a sua avaliação final sobre a gestão que passou? Como ficou sua relação com o ex-reitor?
Marcus – Minha avaliação é muito boa. Tivemos um reitor que soube conduzir sua equipe e aproveitar os ventos favorabilíssimos que sopravam de Brasília. Mas poderíamos ter avançado bastante na qualidade do ensino de graduação e na redução de desperdícios.
Tenho pelo Prof. Alex grande respeito e profundo agradecimento pelo que realizou na UFPA e pelas oportunidades que pessoalmente me concedeu.
Bilhetim – E agora, o que você sugere para a nova gestão?
Marcus – Primeiro. O PDI 2001/2010 não é de um gestor e sim da Instituição. Portanto, trabalhar para concluí-lo até o próximo ano. Paralelamente, um grande esforço de planejamento no âmbito estratégico. A ação do Governo Lula, as novas vias de desenvolvimento com asfaltamentos de grandes eixos rodoviários, a chegada da ferrovia Norte-Sul, a implantação das Hidrovias, o Navega-Pará, a siderúrgica da Vale e todas as indústrias de arrasto, o recrudescimento da questão ambiental, são importantíssimos itens produtores de cenários bastante diferenciados em relação aqueles de 2001. As fragilidades institucionais são hoje menores e nossas capacidades foram ampliadas.
Mas poderemos ter também um cenário de volta dos liberais tucanos ao executivo federal, com políticas restritivas ao crescimento das IFES. Tudo isso deve ser levado em conta para a projeção das medidas que concretizarão os compromissos assumidos e as metas propostas durante a campanha eleitoral.
Vejo, ainda, um ambiente de grande desperdício de meios. Defendo um planejamento orçamentário que leve em consideração as necessidades de cada curso até que atinja a excelência, mas sem espaço ao desperdício. Os resultados devem ser cobrados na medida em que os meios são disponibilizados.