Manifestantes pró e contra Zelaya saem às ruas de Tegucigalpa

TEGUCIGALPA - Partidários e detratores do presidente hondurenho deposto Manuel Zelaya saíram às ruas na quinta-feira, numa queda de braço em torno do dirigente refugiado na embaixada do Brasil e ainda cercado por militares.
Os partidários de Zelaya disseram que vão guardar distância da embaixada, à qual tentaram chegar numa marcha que envolveu uma multidão, na quarta-feira, mas foram dispersos pelas forças de segurança com gás lacrimogêneo. Não está claro onde terá lugar a manifestação da quinta-feira.
Os enfrentamentos entre os seguidores do presidente deposto e a polícia deixaram esta semana um simpatizante de Zelaya morto, dezenas de feridos e vários detidos. Apesar disso, o governo que está no poder revogou desde a manhã da quinta o toque de recolher que vigorava havia dois dias.
Depois de três meses de exílio forçado e de ter sido afastado sob a mira de armas, Zelaya retornou a Tegucigalpa de surpresa na segunda, burlando as defesas do governo para tentar retornar ao poder. E refugiou-se na embaixada brasileira, desafiando uma ordem de prisão emitida contra ele.
Juan Barahona, líder da Frente Nacional de Resistência, disse que a Frente teme que a polícia aproveite os distúrbios para invadir a embaixada e prender Zelaya.
- Temos medo de uma invasão - disse Barahona. - Deste regime ilegal se pode esperar qualquer coisa. Hoje a resistência está nos bairros, tomando conta de ruas e avenidas.
Testemunhas da Reuters disseram que durante a noite batalhões de soldados passaram em frente à embaixada e percorreram as redondezas, alguns deles cantando cantos bélicos.
Refletores foram colocados em casas vizinhas, apontados para a representação diplomática, e também alto-falantes dos quais saía música tropical e, em alguns momentos, o hino nacional.
Afastado do poder em 28 de junho, Zelaya acusou o governo golpista de planejar invadir a embaixada e assassiná-lo, embora as autoridades interinas o neguem.
- Estamos sendo ameaçados de morte - disse Zelaya em entrevista publicada na quinta pelo jornal The Miami Herald. - Prefiro andar em pé que viver de joelhos diante de uma ditadura militar - ele acrescentou.
O governo golpista encabeçado por Roberto Micheletti disse estar disposto a receber uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) para dialogar com Zelaya, mas se nega terminantemente a lhe devolver o poder.

BRASIL E VENEZUELA

Os partidários do governo "de facto" também pretendem realizar um protesto diante da sede das Nações Unidas, em cuja Assembleia Geral vários países pediram na quarta-feira o retorno de Zelaya ao poder. Desde esse foro, o Brasil pediu um estado de alerta em relação à situação de sua embaixada.
- A comunidade internacional exige que o sr. Zelaya volte imediatamente à Presidência de seu país e deve estar alerta para assegurar a inviolabilidade da missão diplomática do Brasil na capital de Honduras - disse o presidente Lula, arrancando aplausos da Assembleia Geral.
Magnata da indústria madeireira, Zelaya foi criticado por muitos em Honduras por sua aliança com o presidente venezuelano Hugo Chavez.
O afastamento de Zelaya, que teve o apoio de boa parte da classe política, do empresariado, da Justiça, do Congresso e até da Igreja Católica, ocorreu horas antes de ser realizado um referendo que abriria caminho para a reeleição presidencial.
Policiais e militares patrulharam até a madrugada as ruas de Tegucigalpa, cidade de 1,3 milhão de habitantes que se converteu em cidade fantasma.

REUTERS