RIO - Entre 2003 e 2008, mais de 25 milhões de brasileiros migraram das classes mais baixas para a média, que tem renda mensal domiciliar entre R$ 1.115 a R$ 4.807. O cálculo, feito a partir dos dados coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad/2008), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi apresentado segunda-feira pela Fundação Getúlio Vargas e mostra que, no mesmo período, outros 6 milhões de pessoas ascenderam à classe econômica de maior poder aquisitivo, a A/B, que ganham acima de R$ 4.807 por mês. Quase metade dos mais de 180 milhões de brasileiro (49,22%) estão na classe média. Ao todo, em 2008, eram 97,1 milhões de pessoas. A classe alta tem 10% da população.
– São 32 milhões que subiram às classes A, B e C. Podemos dizer que meia França entrou nesse mercado consumidor – compara o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV.
A pesquisa da FGV calculou também o impacto da crise nas regiões metropolitanas do país, que, em janeiro desse ano, tirou 2,7% da população das classes A/B.
– A cada ano, na classe alta, 19 pessoas caíam da AB. Agora, são 25 que caem – diz o economista da FGV, lembrando que, segundo a Pnad, esse grupo concentra 55% da renda domiciliar do país. Logo abaixo, contando somente as regiões metropolitanas, a classe média ganhou 2,5% da população entre julho deste ano e de 2008, atingindo mais de 53, 2% da população brasileira, calcula a FGV.
Queda
A mesma pesquisa mostra também a contínua redução do número de pobres e miseráveis no país, aqueles cuja renda domiciliar máxima é de R$ 804. Nos cálculos da FGV, 34,96% da população brasileira era da classe E em 1992. No ano passado, a parcela dos brasileiros nessa classe econômica passou a 16,02%. “Desde o fim da recessão em 2003 a pobreza (classe E) caiu 43%, 19,4 milhões de pessoas cruzaram a linha”, diz um trecho do estudo. Apesar da melhora, existem no país ainda 29,2 milhões de pessoas entre os de menor poder aquisitivo da população.
– Sem dúvida foi uma década muito boa para a redução da desigualdade. Recuperamos o que perdemos nos anos 60, tivemos crescimento em 70, estabilidade em 80 e agora estamos próximos da menor desigualdade – diz Neri, ressaltando duas informações importantes da pesquisa. – De 2007 ao ano passado, entre o décimo da população que recebe menos houve aumento de 16% da renda per capita. Um crescimento chinês.
Na composição de cada classe econômica por tipos de fontes de renda, destaque para os programas sociais governamentais – como o Bolsa Família, que representaram 16,25% na classe E no ano passado, ante 4,87% em 2003. A classe D é a maior beneficiada do reajuste do valor da previdência social, com 12,66% das rendas vinculadas ao piso. Entre as classes AB, o acréscimo de valores acima do piso de pensões e aposentadoria beneficia 18,94%. Na classe C, há uma mistura de componentes: 20% da composição de renda vêm de benefícios da previdência.
A pesquisa da FGV mostra que, entre 2003 e 2008, o potencial de consumo do brasileiro cresceu 14,98%. Seguindo a tendência de crescimento da economia brasileira, também no mesmo período, o chamado potencial de geração de renda familiar (ou potencial do produtor) cresceu ainda mais: 28%.
Raphael Zarko, Jornal do Brasil