*Erick Pedreira
Desde que a revista Science em fevereiro de 2004 publicou o artigo escrito por Hwang e colaboradores, confirmando a possibilidade de se obter células tronco pluripotentes, isto é capazes de se diferenciar em vários tecidos, a comunidade científica tem sinalizado a possibilidade de cura para milhares de pacientes afetados por doenças neurodegenerativas, muitas delas letais antes mesmo da segunda década de vida.
Isto ficou ainda mais fortalecido com a aprovação do projeto de lei da Biossegurança, aprovado na câmara dos deputados em 2 de março de 2006, sob os holofotes dos mais variados setores da sociedade, constituindo-se em um dos projetos mais polêmicos já votados nos últimos anos. Mesmo merecedor de aplausos, o texto não foi capaz de equacionar uma confusão entre três conceitos que precisam ficar muito bem sedimentados por todos: Clonagem reprodutiva, clonagem terapêutica e terapia celular com células tronco.
É fundamental que fique claro que a clonagem reprodutiva humana, ou seja a tentativa de produzir uma cópia de um indivíduo genotipicamente igual é uma prática abominável, até mesmo entre as maiores autoridades científicas sobre o assunto. O que se defende é a instituição da clonagem terapêutica, o que alias já vem sendo há décadas realizada, apenas com outra terminologia; cultura de tecidos.
Já é sabido que as células tronco podem ser encontradas em vários tecidos, como medula óssea, sangue e fígado, no entanto ainda duas questões precisam ser respondidas: em que tecidos essas células são capazes de se diferenciar; e como gerar biocompatibilidade entre a célula tronco do doador e receptor. Ao responder essas questões abriremos perspectivas fantásticas para futuras terapias. Daí a necessidade imediata da criação dos bancos de cordões umbilicais públicos, pois quanto maior o número de cordões em um banco, maior a chance de se achar um compatível.
Não podemos esquecer que o embrião humano é material biológico, por conseguinte sua aplicação com finalidade terapêutica deve ser utilizada sempre respaldada nos preceitos de responsabilidade e coerência, que alias devem constar no check-list diário de todo cientista; no entanto renegar estas novas tecnologias significa corroborar com o retrocesso da ciência e com a piora da qualidade de vida humana.
As novas descobertas da ciência nos trazem novas tecnologias, que influem grandemente no estilo de vida da sociedade, é só nos reportarmos a descoberta da energia nuclear, que nos trouxe a tomografia computadorizada mas também a bomba atômica, por isso é fundamental que leis sejam criadas controlando a utilização destas novas ferramentas tecnológicas.
Ao invés de tanta discussão precisamos, sim, é de legislação e vigilância, semelhante àquelas que evitam o comércio de sangue, ou órgãos, permitindo que milhões de vida sejam salvas com os transplantes; da mesma forma poderia se limitar a pesquisa com embriões humanos, cadastrando-se grupos de pesquisadores com capacidade demonstrada na área; só assim se estaria realmente livre para pesquisar, e seguro de que seus resultados não seriam manipulados por charlatões; mesmo sendo claro para todos que até se chegar a aplicação clínica das descobertas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Enquanto não formos capazes de responder quando começa a vida, estarão ciência de um lado, e religião, do outro, mergulhados em uma ampla discussão, contudo não devemos jamais esquecer que qualquer que seja o vencedor mais que os Severinos, Garibaldis; os doentes estarão ansiosamente aguardando a resposta.
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Prof. Dr. Erick Nelo Pedreira
Prof. Adjunto Doutor Faculdade de Odontologia da UFPA
Professor do Programa de Pós Graduação em Odontologia – Nível Mestrado da Faculdade de Odontologia da UFPA
Membro da Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO
erickpedreira@ufpa.br