Mandato executivo, máquina e reeleição

A estratégia da oposição ao governo Lula tem se voltado para denunciar as andanças de Lula com a candidata petista Dilma Roussef. Este fato, a par de expor a hipocrisia dos partidos e coligação, haja vista que todos os partidos usam a máquina administrativa em favor das candidaturas que apóiam, abrem a possibilidade de uma boa reflexão sobre o sistema político brasileiro.

A teoria política entende a reeleição como um momento no qual o eleitorado reflete sobre o mandato do executivo incumbente, e com base no cálculo racional entre promessas no pré-mandato (campanha) e as realizações no final do quadriênio, decide se o mandatário merece ou não um novo mandato. Teoricamente esta formulação só se aplica em eleições majoritárias no Brasil, devido ao perfil do sistema eleioral e partidário brasileiro(baseado no personal vote e nas eleições proporcionais de lista aberta).

Pois bem, invariavelmente, nas grandes cidades e capitais, nas eleições para prefeito e governador, a maioria dos recandidatos tem conquistado um segundo mandato, mesmo tendo, estes mandatários feito mandatos abaixo do regular, especialmente no norte e nordeste do Brasil.

Eu que sempre defendí o direito do eleitorado avaliar o quadriênio de um governador, presidente e prefeito e reelegê-lo ou não, hoje estou reavaliando a experiência brasileira, devido ao enorme abuso econômico e do uso da máquina pública através de obras e serviços eleitoreiros para serem inaugurados em vésperas dos processos eleitorais.

É absolutamente desproporcional com as oposições assistirmos em vésperas de eleições o desfile de máquinas realizando serviços urbanos imediatos como aterros, asfaltos e outras ações visíveis, além do desfile de mil ações que visam "profissionalizar" líderes comunitários, sindicais e de ONG's em busca de captura de eleitores carentes e que podem "trocar" seu voto por benefícios imediatos (que os americanos chamam de pork barrel, ou troca suja).

Nestas circunstâncias, a reeleição deixa de ser um instrumento de avaliação do mandatário incumbente pelo eleitorado autônomo e passa a ser um instrumento de alienação política com a subsequente oligarquização do processo eleitoral por parte de partidos, coligações e governantes no poder, que usam a máquina pública e o poder econômico para garantir oito anos de mandato consecutivos.