Flávio Nassar: As Metarmorfoses de um Golpe



Pensei que as chuvas de fim de ano e a aproximação do Natal pudessem amolecer os concretos de que parecem ser feitos os corações e mentes dos golpistas.

Pensei que se o Natal não trouxesse o espírito de fraternidade pelo menos traria o da sensatez.

Querem seguir alimentando ódios e criando ressentimentos, em vez de deixarem que o sentimento de bonomia, próprio desta época do ano, seja vivido pela comunidade universitária.

Se quiserem assim, assim será. Em vez de árvores de Natal, vamos de bordunas e tacapes (metafóricos é claro, como convém à Academia). Em vez de troca de presentes poderá acontecer trocas de insultos (já não tão metafóricos).

Se quiserem, em vez da roupa nova das festas, já estamos aqui pintados de urucu e jenipapo.

Vamos à guerra!

Primeiro aos fatos. A consulta à comunidade acadêmica para a indicação do reitor da UFPA (2009-2013) transcorreu dentro da normalidade e de acordo com as normas aprovadas por unanimidade no Conselho Universitário (CONSUN).

Venceu o Professor Carlos Maneschy. Suplantou a segunda colocada, a candidata golpista por uma diferença equivalente a 33 votos docentes, ou 31 votos de funcionários, ou 412 votos de estudantes. Mais ainda, como a consulta foi transformada em plebiscito pela atual administração - eles contra os outros - os votos dados à oposição representaram 70% do universo de votantes.

Então os golpistas colocaram em marcha o plano de tumultuar a apuração das eleições. Esperavam criar um clima de confusão, que colocasse em risco a lisura do pleito: a lista tríplice indicada pelo CONSUN não seria a consagração da consulta à comunidade, mas uma simples lista da qual um dos componentes poderia ser legitimamente indicado reitor.

Brasília foi consultada e a resposta foi: - NÃO, o reitor indicado será o primeiro da lista apontada pela comunidade !

Então começou o Plano B do Golpe, pedir a recontagem dos votos.

Os derrotados, que na noite da apuração haviam reconhecido a derrota, em manifestação pública de seu advogado, recorreram à Comissão Eleitoral. A Comissão por unanimidade refutou todos os argumentos apresentados por Regina e Licurgo indeferindo o recurso "por entendê-lo inconsistente e improcedente".

Agora mais uma vez, desafiando a sensatez, a lógica e a etiqueta democrática, recorrem ao CONSUN para que sejam recontados os votos.

O atual cenário é ainda tumultuado pela recente entrevista concedida pelo atual reitor ao portal da UFPA na última sexta-feira, 12 de dezembro.

O raciocínio límpido, a inteligência, as idéias republicanas, marcas do pensamento do reitor, se obscureceram na entrevista, quase uma das tristemente famosas "ordens do dia".

Nada justifica a manifestação do reitor insinuando que a recontagem dos votos é democrática quando as vitórias acontecessem por pequena margem.

Em primeiro lugar a diferença não foi mínima como já demonstrado acima; em segundo a recontagem se justificaria se o processo tivesse sido tumultuado, se houvesse indícios de vício, muitos recursos e impugnações. Nada disso houve, basta consultar as atas das seções eleitorais que demonstram a tranqüilidade do pleito.

Na recente eleição para prefeito do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira ficou em segundo lugar, com pequena diferença em relação ao primeiro colocado. Em respeito à legitimidade do processo eleitoral, assim que se enceraram as apurações e sem que tivessem decorridos os prazos recursais, como o pleito ocorrera com normalidade, reconheceu a vitoria do adversário.

Isso é democrático, isso é republicano.

Preparado o clima, os derrotados recorreram ao CONSUN. Não apresentaram nenhum novo argumento, acrescentaram apenas mais um elemento anti-democrático: requerem a retirada dos membros da Comissão Eleitoral da reunião do CONSUN apreciará o referido recurso.
Querem calar a Comissão Eleitoral porque os seus argumentos são definitivos: “A disputa acirrada entre os quatro candidatos ... fez que os cuidados com o processamento e sistematização dos números fossem desdobrados em múltiplas contagens, conferências e verificações, procurando sempre minimizar os erros decorrentes da falibilidade humana.”

Até quando, ousareis abusar da nossa paciência?