Carta aberta ao prof. Alex Fiúza de Mello

*Prof. Edir Veiga

Professor Alex Fiúza.

Hoje, 23 de dezembro, li atentamente sua carta apresentada na reunião plenária do CONSUN e confesso, concluí que grande parte de suas “estocadas” estavam relacionadas à minha pessoa e ao grupo Tribo, que lhe apoiou por duas eleições consecutivas e, falando neste grupo, o senhor sabe que eu tenho o privilégio de ter um diálogo político especial com este, razão pelo qual me reportarei a este tema, de acordo com a evolução deste diálogo democrático. Metodologicamente procurarei discutir suas principais afirmações, para que fique gravado na história desta universidade, as minhas versões sobre os fatos.

1-Antes de iniciar o diálogo com o seu texto, cabe um tema introdutório. No curso de seus diversos aparteamentos e intervenções, nos debates do CONSUN, o senhor afirmou que não citaria o nome de seus “detratores” para não coloca-los na história da UFPA, devido a estas pessoas serem insignificantes politicamente. Portanto iniciarei meu debate relembrando ao senhor um pouco de minha história na UFPA.

Em 1982 eu já era presidente do Centro Acadêmico de Odontologia, diretor do DCE, e em 1984, eu mobilizei o campus de Santarém em apoio ao candidato José Seixas Lourenço. Neste período, também, apoiei um candidato funcionário à direção do Centro de Humanos, o sociólogo e sindicalista Epifânio Parente, nesta eleição o senhor elegeu-se Diretor de Centro de Humanas. Em 1988, eu e meu grupo político, apoiamos a chapa de Nilson Pinto à reitoria da UFPA, onde o senhor foi convidado e ocupou o cargo de Pró-Reitor de Extensão. Note professor Alex, eu não era apenas um apoiador, eu era um dos fundadores e um dos coordenadores de um gigantesco grupo político nas categorias discente e técnico-administrativo na UFPA. Nesta época eu já era diretor executivo da FASUBRA, Secretário Geral da Central Única dos Trabalhadores, seção Pará, e membro da direção nacional da CUT. Em 1990 conquistamos a ASUFPA e a transformamos em sindicato, a partir daí o grupo político ao qual eu era um dos principais coordenadores já exercia larga hegemonia nos movimentos sociais da UFPA, hegemonia esta que chegou até os anos 2000. Fui representante nos órgãos colegiados da UFPA por mais de dez anos, acompanhando todos os grandes debates travados neste conselho entre os anos de 1983 até o ano de 1994, quando então deixei de atuar no movimento sindical e me dediquei aos cursos de pós-graduação em nível de especialização, mestrado e doutorado, iniciando uma nova trajetória em minha vida universitária. Neste período fui laureado com medalhas comemorativas da UFPA. Portanto professor Alex, minha história está inscrita na vida da UFPA, na história da luta contra a Ditadura Militar, na luta pela democratização da UFPA e nas conquistas de melhores condições de vida para os trabalhadores desta universidade. Sou um daqueles que teve o privilégio de estar na direção de nosso movimento quando da conquista da isonomia salarial, Plano de Cargos, Carreira e Salários e outras conquistas sociais para os trabalhadores técnico-administrativos. Portanto professor Alex, mesmo que o senhor queira ofuscar, eu já faço parte da história da UFPA, existem mais de uma centena de páginas de jornais falando de minha atuação política na UFPA, não será a sua oportuna amnésia de minha história pessoal que apagará minha vida política na UFPA. O senhor sabe, ou deveria saber, que a mancha que paira sobre meu nome, deve-se aos confrontos nas eleições para reitor que travamos contra o aparelhamento partidário da UFPA. Estes fatos são mais de conteúdos políticos do que moral. Na UFPA não existe qualquer acusação contra mim, mas tão somente nos fóruns partidários, levados à frente, junto ao Ministério Público, por ex-adversários políticos do início da década de 1990, que haviam sido derrotados eleitoralmente no interior desta instituição. Aliás, desconheço derrota eleitoral em 24 anos de eleições para reitor da UFPA. Como vê senhor Alex Fiúza, não sou invisível na política universitária. Quanto à biografia acadêmica, sou um recém doutor e espero construí-la nos próximos anos, já tenho dois livros no forno, possuo mais de 80 artigos publicados em jornais, magazines e revistas, mas quero emplacar artigos internacionais, e este será meu objetivo nestes próximos anos. Neste momento não ambiciono cargos executivos. Sou um recém doutor em ciência política, mas sou um velho ativista política, eu poderia ter sido doutor aos 29 anos de idade, se minha opção não fosse a luta política por toda a década de 1980, até meados da década de 1990. O senhor sabe também, que em matéria de competição eleitoral, sou o único doutor em ciência política da região norte, que tem uma tese de doutorado em competição eleitoral, e nesta fonte o senhor bebeu nas eleições para a reitoria em 2001 e 2005.



Vamos ao seu texto e às suas afirmações.

2- “Ninguém, portanto, queira agora me ensinar a ser democrata e a conduzir o atual processo de forma transparente e honesta, pois quem duvida de minhas intenções, desconfia de minha integridade, me atira as pedras e me pré-julga não tem moral, nem ética, nem coerência, nem biografia para fazê-lo. Nenhum! Talvez me atribuam a priori a desconfiança com base no que justamente fariam – como já o fizeram – se estivessem em meu lugar. Tranqüilizem-se, senhores, porque não sou da vossa estirpe: não negocio consciência e coerência. O volume de calúnias plantadas em blogs, panfletos (como aquele do grupo intitulado de “Tribo”)”

Professor Alex.
Caso o senhor não entrasse nesta luta política sucessória, fatalmente o senhor nem seria notado no processo, mas o senhor entrou no ringue, bateu e levou sopapos políticos, marcou reuniões formais na SEGE, prestou contas de seus oito anos de gestão e solicitou que em troca de seu desempenho político à frente da reitoria, que os técnico-administrativos apoiassem a sua candidata à reitora, aliás, esta mesma tática o senhor usou com os docentes, e foi bem sucedido.
Onde está sua falta de ética administrativa e política?
No fato de o senhor ter chamado para si todas as conquistas dos últimos oito anos. O senhor há de convir de que sozinho jamais ganharia as eleições de 2001. Sabe que contou com muitas pessoas no seu apoio diuturno, lideranças estas, que caso o senhor não fosse o reitor nomeado, estariam correndo graves riscos de perseguições políticas e administrativas, como eu, por exemplo, que me expus de todas as formas possíveis, inclusive nos grandes jornais da cidade. O senhor professor Alex, esqueceu-se, ou fingiu esquecer, de que existem dezenas de lideranças sindicais que estavam apoiando o professor Maneschy nestas eleições. Estas lideranças são as mesmas que nas eleições de 2001 e 2005, marcharam lado a lado com a sua candidatura, e no mínimo merecem gratidão de sua parte.

Lembra das eleições de 2005 quando aquele seu ex-Pró-Reitor de Planejamento de 2001, soltou documentos questionando sua idoneidade moral, através daquela famosa lista do mensalinho da FADESP? Lembra quem lhe defendeu e finalizou com aquele debate? Foi o grupo TRIBO, inclusive o senhor participou ativamente das discussões acerca da linha política daquele jornal que liquidou politicamente com as investidas moralistas daquele ex Pró-Reitor. Portanto senhor Alex Fiúza, não seja injusto com este grupo que sempre lhe deu apoio e que o senhor quase liquidou na UFPA no ano de 2006, quando não cumpriu com as prometidas transformações administrativas no HUJBB assumidas na campanha de 2004. O senhor, ao contrário das promessas assumidas com as lideranças do HUJBB, manteve toda a velha casta administrativa, desmoralizando 54 lideranças sindicais do HUJBB e da TRIBO como um todo, levando à derrota deste grupo nas eleições do SINTUFPA. Só para relembrá-lo, em 2006 a chapa TRIBO obteve uma vantagem sobre a chapa de oposição ao SINTUFPA de 140 votos em toda a UFPA, e somente no HUJBB, esta chapa recebeu um chocolate da oposição com 200 votos de diferença. A TRIBO jamais tinha perdido uma única eleição neste hospital. Foi o senhor quem levou à derrota a TRIBO no HUJBB. Mas, apesar de tudo isso a Tribo estava calada. O senhor foi à vigilância e faltou com a verdade acusando-os de o terem abandonado porque o senhor não dera os cargos que eles pleitearam. Mal sabia o senhor que naquele grupo de servidores havia vários integrantes, simpatizantes e contumazes eleitores da Tribo. O senhor mexeu em onça com a vara curta. O jornal da Tribo, panfletário ou não, foi um ajuste de contas com o senhor, nada como um dia atrás do outro, nas disputas políticas.

Professor Alex Fiúza.
No Blog Tiquin, hoje denominado Bilhetim, travei uma luta política e ético-moral com sua conduta nestas recentes disputas eleitorais. O senhor deveria ter se licenciado do cargo, e feito sua peregrinação na condição de cabo eleitoral. Lembra do liberal Mário Covas? Ele se licenciou do cargo por seis meses para disputar sua reeleição ao cargo de governador de S.Paulo. Esta é a postura paradigmática para quem quer ser um ícone da postura ética na ação política. Não senhor Alex Fiúza, o senhor não agiu assim, o senhor convocou reuniões com funcionários na SEGE, usou a prerrogativa de reitor, no exercício do cargo para garantir a presença de todos os servidores de cada unidade para ouvi-lo. O senhor visitou todas as unidades administrativas pedindo voto em troca de suas realizações. O senhor foi um verdadeiro cavaleiro do apocalipse, quando dizia que se sua candidata não viesse a ser eleita, a UFPA viraria um caos. O senhor foi anti-ético quando fez questão de esquecer que o prof. Maneschy foi membro de sua equipe até há um mês antes das eleições. O senhor foi antiético com o professor Maneschy quando procurou pessoas que migraram para apoio a este candidato e desferiu-lhe, por trás, ataques morais pesadíssimos, acusando-o verbalmente, aos ouvidos de uma renomada professora e de outros interlocutores indecisos eleitoralmente, de corrupto e mau caráter, sem lhe dar qualquer possibilidade de defesa. Enfim senhor Alex Fiúza, você fez questão de ignorar que todo o movimento social organizado da UFPA, que lhe apoiou em 2001 e 2005, e que agora veio a apoiar o professor Maneschy, também são autores diretos e objetivos de todas as conquistas que a UFPA experimentou, sob o seu comando, entre os anos de 2001 até 2008.
Professor Alex, o senhor sabe, a história é feita pelos conglomerados sociais e não por uma única pessoa, como o senhor afirmou e reafirmou nesta sua enlouquecida e apaixonada corrida eleitoral. Não esqueça, esta campanha de Regina foi carregada pelo senhor e pelo exército de CD´s, e mesmo assim, a sua chapa foi derrotada. Ou seja, o fator decisivo de suas duas vitórias foram os movimentos sociais organizados. Foram estes aliados estratégicos que o senhor menosprezou nestes últimos 04 anos, estes mesmos que o senhor quase destruiu politicamente no episódio do HUJBB. Como um bumerangue, aconteceu aquilo que o poeta declama: "foi a volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dar".

“...quem, de fato, conspirou contra a tranqüilidade das eleições, contra o respeito mútuo entre colegas, atestando que, infelizmente, a universidade ainda possui, em seu meio, setores absolutamente despreparados para uma disputa política leal e de alto nível, pautada tão-somente no debate de idéias e de projetos e não em acusações infundadas e levianas. Acusações, aliás, de naipe semelhante àquelas que, durante a campanha, imputaram-me criminalizar os movimentos organizados nesta universidade, justamente aqueles que passam o cadeado em hospitais, invadem e depredam a reitoria, tentam impedir, pelo uso da violência, decisões democráticas dentro dos Conselhos e mantém servidores da Justiça Federal em cárcere privado...”

Senhor Alex Fiúza.
Como travar debates de idéia, se a CAESUN e a CEUP denunciavam que o prefeito do campus estava lhes oferecendo refeições, vale transporte, retelhamento das casas e comidas grátis no RU? Qual a diferença entre as disputas de baixo nível, utilizada pelas oligarquias políticas e econômicas e este tipo de prática política nas eleições para reitor? E as promessas em véspera de eleição de construção de prédios com gabinetes individuais para os docentes? Em oito anos nada disso foi feito, como faze-lo em seis meses, afinal, o atual reitor não tem como garantir a construção de prédios em uma outra gestão. Segundo engenheiros balizados, nenhum destes prédios, com estas características arquitetônicas, custaria menos de R$1.000.000,00 (hum milhão de reais). Ou seja, o senhor não pautou sua campanha política em cima de projetos e programas políticos, mas em cima de propostas que seduziam pelas trocas materiais imediatas, como fazem os velhos oligarcas, e o que é pior, são promessas de dificílima objetivação no curto e médio prazo, ou seja, estas propostas, poderiam entrar para a história como promessas demagógicas. Esta prática, ao cabo e ao fim das coisas, seria muito ruim para a fé na democracia, na política e nas instituições. No fundo, lá no fundinho, o pragmatismo eleitoreiro, em nome de uma avaliação apocalíptica, conduziu a sua ação política, professor Alex Fiúza.
Os princípios ético-morais passaram longe deste comportamento político. A razão instrumental, sem dúvida nenhuma, substituiu a razão dialógica neste tipo de conduta. Afinal, quem não está a altura de uma campanha de alto nível, não seria o próprio senhor, professor Alex?

E para finalizar professor Alex Fiúza.
O senhor fez questão de afirmar de que eu não tenho padrão intelectual para discutir qualquer tema com a sua ultra-superior inteligência, talvez a UFPA não saiba e eu preciso informá-la, nos últimos oito anos, o senhor seguidamente, em almoços em locais públicos, discutiu muitos temas acadêmicos e políticos comigo, sempre aos sábados e ou domingo, e nunca disse ou insinuou de que eu não tinha nível intelectual para dialogar com o senhor, inclusive publicamos artigos juntos, em uma revista de circulação nacional. Outra coisa, hoje as relações pessoais estão sectarizadas, induzidas pelas suas ações políticas dogmáticas, é tanto assim, que os apoiadores da candidata Regina, estão de “mauzinho” com velhos companheiros de outras jornadas. Sabe porque seus “apoiadores” hoje nos odeiam? Porque o senhor demonizou, exorcizou seus adversários políticos, no melhor estilo da inquisição. O senhor reduziu a política à concepção bi-dimensional do bem contra o mal. Este modelo reducionista em política reflete uma concepção pré-hieraclitiana e religiosa, no pior estilo, da vida e da política. Enfim o senhor foi absolutamente instrumental. Quanto a isso nada posso fazer. Espero sinceramente que o senhor continue com sucesso na sua vida, não desejo o seu mal, desejo-lhe sempre sucesso, afinal, passei oito anos ao seu lado, sem exigir barganha pessoal, em termos de bens materiais e sendo absolutamente companheiro e leal, dediquei o melhor de minha ação política em favor de um projeto acadêmico, encabeçado pelo senhor, professor Alex Fiuza. Não concordei com o nome indicado pelo senhor para a próxima reitoria, você tentou submeter a tudo e a todos ao seu chicote mandonista, como se fosse o dono das vontades. Senhor Alex Fiúza, sou intutelável.

Era o que eu tinha para externar, como testemunho que deve ficar registrado na história da UFPA, apesar de o senhor achar que eu sou um “nada” na história desta universidade. Sou um “nada” que lhe ajudou a emergir do auto-exílio para a vitória na UFPA em 2001, após oito anos, longe fisicamente da UFPA. E que agora, este mesmo “nada” foi um dos arquitetos da vitória eleitoral do prof. Maneschy.

* Edir Veiga é Dr. Em Ciência Política e professor adjunto da UFPA.