Depois que o Partido Comunista Italiano viveu a derrota da revolução socialista em seu país, em consequência da aplicação da estratégia revolucionária russa na Itália, Antônio Gramsci, nos Cadernos dos Cárceres, fez profundas reflexões sobre a causa da derrota de revolução italiana. Duas conclusões são centrais em suas reflexões: a primeira é a diferença estrutural entre a sociedade Russa e a sociedade Italiana, aquela rural, analfabeta e pastosa e esta urbana, letrada e articulada.
A segunda conclusão se dá no modelo da estratégia revolucionária. O modelo russo se deu a partir de uma ação de vanguarda, militarista (guerra de movimento) e centrada na tomada do palácio de governo, estação ferroviária e telefônica, e o modelo a ser utilizado em sociedades desenvolvidas como a Itália teria de ser fundada em ação política de massas, orientada para a conquista de hegemonia cultural, ético, moral, cultural e política( guerra de posição) e numa concepção de revolução processo, ou seja, múltiplas e seguidas rupturas onde o binômio legal/ilegal fariam parte de um mesmo processo, onde a mediação se daria entre a luta política e ideológica na sociedade civil e a presença de governos comprometidos com as reformas estruturais em curso, o que permitiria a convivência, numa relação dialética entre mudança e permanência,mediada pelo tensionamento ao Estado de Direito Democrático. É a hegemonia capitalista e a contrahegemonia socialista fazendo parte de um mesmo processo e em confronto permanente, dando evasão à dualidade de poderes. É a teoria da Revolução Processo.
Gramsci inaugura um novo debate em escala planetário em torno de concepção de transformação revolucionária em países desenvolvidos economicamente e que possuem uma sociedade civil burguesa altamente articulada. Para o pensador italiano de esquerda, a dominação central que a hegemonia capitalista realiza na sociedade se dá a partir da reprodução de valores privatistas, particularistas e discriminatórios. Esta concepção rompe com uma tradição de um certo marxismo vulgar, que reduzia todas as dimensões da dominação capitalista ao nível econômico.
Em síntese, a dominação fundamental da hegemonia capitalista se dá a partir da cabeça e não do estômago, como querem os economicista.
A partir destes pressupostos de uma esquerda contemporânea, faço a seguinte pergunta: Qual a herança de valores anticapitalistas, de uma cultura política participativa, estimulada a partir das instituições do Estado (institucionalização) que o governo Lula está deixando para o Brasil e Ana Júlia está deixando para o Pará?
Em que dimensão estes governos foram transformadores, no sentido gramscista? Ou estes governos apenas administraram o Estado, como faria qualquer partido político? Onde podemos notar os germes da uma futura sociedade solidária, participativa e com valores anticapitalista, a partir da experiência de Lula no Brasil e Ana no Pará.?