Em um documento enviado ao MEC, 15 instituições afirmam que o sistema de seleção está em 'descrédito' e que, por isso, realizarão processos seletivos próprios no meio do ano. Elas também se queixam da evasão registrada logo após a matrícula
Ligia FUniversidades mineiras dispensam Enem após sequência de problemas
Universidades mineiras vão dispensar o resultado do Enem de 2009 e fazer processos seletivos próprios no meio do ano. Em um documento assinado pelo Fórum das Comissões de Processos Seletivos de Minas Gerais e endereçado à Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação, 15 instituições avaliam que o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) está em "descrédito". Não foi divulgado quais delas farão vestibular próprio.
Para as instituições, com o descrédito, persiste o risco de o candidato participar de várias seleções. Segundo o MEC, ao menos 7 mil vagas não foram preenchidas na primeira edição do Sisu (mais informações nesta página). Além de ter sido enviado ao ministério, o documento foi distribuído ontem a representantes de universidades federais que se reuniram, em Brasília, para discutir as falhas e acertos do Sisu.
No texto - que tem o apoio das comissões de universidades como a Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Federal de Alfenas - o fórum queixa-se da falta de clareza na prestação de informações aos estudantes e de articulação das políticas do MEC, como o Programa Universidade Aberta do Brasil.
As universidades lembram que alguns dos problemas, como a possibilidade de vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o baixo preenchimento de vagas, já haviam sido detectados pelo fórum. Para elas, isso reforça a certeza de que o processo deveria ter ocorrido com planejamento adequado. Para o grupo, muitas das falhas persistem.
"Questões relativas à segurança continuam preocupantes, pois todos os que acompanham a aplicação do Enem sabem que a logística desse processo é frágil em várias etapas (impressão, armazenamento de prova, seleção de aplicadores). Não aconteciam ou pelo menos não se tem notícia de grandes falhas (ou fraudes) antes de o exame ter valor maior no âmbito nacional", diz o documento.
Entre as falhas do Sisu apontadas pelo fórum estão o fato de o calendário de matrícula ter sido fixado pelo sistema, e não pela instituição, e a alteração do cronograma e a consequente necessidade de as universidades corrigirem um número de provas superior ao previsto.
"O processo não é de todo ruim, mas precisamos fazer uma profunda reflexão sobre os problemas registrados até agora, que mexem com muita gente", afirmou o professor e presidente da Comissão Permanente de Vestibular da Universidade Federal de São João Del Rei, Hewerson Zansávio Teixeira.
Na universidade onde ele trabalha, 10% das vagas disponibilizadas não foram preenchidas. Apesar das falhas, Teixeira acredita que a seleção unificada é um processo sem volta. "Mas ajustes são indispensáveis."
Evasão. Instituições relatam ainda evasão de estudantes logo após a matrícula. Segundo representantes do fórum, isso ocorre "quando os aprovados percebem a infraestrutura e a assistência disponíveis (ou a sua inexistência)."
Também houve queixas contra a falta de uniformidade para notas de corte. "Há universidades que exigem 30% de acerto nas questões, enquanto outros, 20%. Existe ainda quem se satisfaça com nota diferente do zero", disse a diretora de registro e controle acadêmico da Universidade Federal de Rondônia, Elizabete Silvino. Um dos grupos reunidos ontem tentou discutir um padrão para a nota mínima.
Questionável. O MEC, por meio da assessoria de sua imprensa, classificou o documento distribuído ontem como um "libelo político", com representatividade questionável. O ministério afirmou que reitores das instituições citadas no documento - mesmo de universidades que não aderiram ao Sisu - fazem elogios ao novo sistema. Para a pasta, as informações do documento não se sustentam.
Lígia Formenti- O Estadao de S.Paulo