A eleição e a baixa escolaridade

Lí na semana passada (em ajuruteua) muitas opiniões de especialistas a respeito da correlação entre escolaridade e qualidade da decisão do voto. Tal debate instalou-se após o TSE ter revelado que no Pará quase 70% do eleitorado possui até a oitava série, incluindo 8% de analfabetos e 25% de analfabetos funconais.

Na minha humilde opinião, com base nas teorias da decisão do voto e nas experiências internacionais das revoluções democráticas e proletárias, afirmo que a educação tem correlação direta com o nível de renda da população e não com a qualidade do voto.

Quanto à questão da correlação entre nível educacional e qualidade do voto, posso afirmar que a educação é uma condição necessária para o exercício da cidadania, inclusive a eleitoral, mas não é uma condição suficiente para a qualidade do voto. Explico, em minhas pesquisas empíricas sobre a decisão do voto, para o executivo e para o legislativo, comprovei que a alienação política e eleitoral transversaliza todas as classes sociais, do mais rico ao mais pobre, do letrado ao analfabeto. Por exemplo, dois anos após as eleições de 2006, 70% do eleitorado não lembrava em quem votou nas últimas eleições para deputado estadual ou federal, e este percentual não variava entre os eleitores de nível superior , ou entre os de baixa escolaridade ou analfabetos.

Na verdade o que explicaria o maior ou o menor envolvimento de uma sociedade democrática com as decisões eleitorais e partidárias seria o nível de cultura cívica de uma população, tendo como ponto de partida a cultura associativista, que conduz os indivíduos do universo particularista ao universo mais coletivo, ou seja, da alienação ao altruismo, sendo o lócus para este "engatinhar" na política a vida associativa nas escolas, nas universidades e nas comunidades.

Portanto, ser despolitizado não é uma característica dos eleitores com baixa escolaridade, mas de todo um país que viveu a maior parte de sua história sob a égide de oligarquias (Império e República Velha) ou das Ditaduras ( Vargas e Militar). Não esqueçamos de que todas as revoluções proletárias do século XX foram baseadas na popução analfabeta ou de baixíssima escolaridade como na Rússia, China e Cuba.Voce pode politizar com a mesma eficácia tanto um letrado como um analfabeto. Um pescador semi-analfabeto de Cametá inscrito na colônia de pescadores discute política nacional e estadual com mais desenvoltura do que um eleitor de nível superior que nunca participou de atividades associativistas e correlatas.

A cultura cívica deveria fazer parte das preocupações estratégicas do Estado brasileiro, para servir como um antídoto contra as aventuras golpistas no Brasil.