Fernando Arthur de Freitas neves
Shakeaspere é inesgotável como fonte de inspiração e conflito, mas sobretudo como divertimento com as muitas mazelas morais de nossa condição humana tantas vezes propalado em suas peças como “Sonho de uma noite de verão, Megera indomada,.Tudo Bem Quando Termina Bem, A Comédia dos Erros, Medida por Medida, O Mercador de Veneza, Muito Barulho por Nada, A Tempestade, Noite de Reis, Os Dois Cavalheiros de Verona, Os Dois Nobres Parentes”. Sem dúvida quando este adentra a comédia somos deliciados com o prazer da declamação sobre os tipos humanos forjados por uma argúcia da observação de nossas fraquezas transformadas em vilanias ainda piores quando assobradas pelo gigantismo da rotina ou dos desafios.
O teatro fica mais rico quando encenado e não apenas lido, sem duvida a imprecação do autor tem sua anima pulsada no instante da apresentação na ribalta. Ali, a relação votiva vai aos píncaros devido ao encontro das gorduras e ossos dos atores com o alinho do autor, mediado pela integração da cenografia, marcação, iluminação cujo fim último é o espetáculo. Esta experiência é vivenciada com mais fervor quando na escolha do texto há uma simbiose com o grupo que o escolheu. O Teatro Universitário Claudio Barradas tem uma temporada feliz até o dia 22/12, com a execução de “Trabalhos de Amores Perdidos” da lavra de Sheakespeare em suas primeiras comédias, porém sofrendo uma inflexão muito feliz ao incorporar intertextualidade com o “rapp” e as inflexões locais sem cair no regionalismo barato, às vezes responsável por tantos desastres na montagem dos espetáculos.
Composto por jovens atores do curso de teatro da UFPA, a peça foi magistralmente apresentada, pena que a platéia assistente fosse pequena. Ninguém chega a farfalhar, há equilíbrio com os pontos de maior riso sem alterar o ritmo do conjunto da obra. Alguns poucos traços picantes não irão criar rubor ao expectador conservador, pois o próprio Shakespeare era dado as pandegas e deboches com os pequenos membros masculinos. O improviso também foi um ponto vigoroso dos jovens atores, eles não se perderam por um instante sequer; a fala coloquial não atravessou a cadencia do britânico, antes teve uma feliz solução com a explicitação da emoção em cada palavra do texto, sem tender a verborragia.
Aprender a fazer teatro é um ofício dos mais nobres, ao vê-las e vê-los tão vigorosos e ciosos de sua arte pudemos testemunhar uma realização de vida. Enquanto esperávamos do lado de fora, ouvíamos os últimos ensaios, até que fomos surpreendidos com o brado coletivo - meeeeerda, logo em seguida, os portais foram abertos e iniciou-se o espetáculo. Esta é uma saudação comum no teatro, não advêm de uma inspiração presidencial como tentam sugerir os jornais burgueses. Os americanos gostam de expressão “quebre a perna”, tem o mesmo sentido de saudação embora mais contido. Em Trabalhos de Amores Perdidos vemos como um decreto insano encontra felicidade na insanidade. Explico - o personagem o Rei de Navarra decreta a reclusão da pessoa do rei e sua corte masculina aos prazeres banais como o refestelo nos banquetes e na luxuria e cedam vez ao estudo, introspecção e espiritualidade. Um tanto a contragosto seus nobres afiançam o valor do rei jurando lhe seguir na empreitada quando são informados da visita das damas de França em companhia da princesa. Obviamente as tentações não demoram a postasse no primeiro plano ensejando muitos ardis para obliterar o decreto sem tornar-se perjure. Esses arranjos são exercitados nesta poética. Shakespeare é ótimo no cinema, no teatro então..., só quem for ver poderá dizer.
Um bservador no teatro