Charles Alcântara deixa a Casa Civil

Edição de 11/04/2008

CABO-DE-GUERRA
Saída do petista fortalece ala liderada por Cláudio Puty

MAURO NETO
Produtor executivo
fonte: O LIBERAL (http://www.orm.com.br/oliberal/)



A saída de Charles Alcântara da Casa Civil, na tarde de ontem, ressalta a nova face do governo Ana Júlia Carepa: velhos companheiros de campanha e de militância de rua abrem espaço para lideranças oriundas do meio acadêmico, com boa formação, mas com menor respaldo nas bases políticas. A derrocada de Alcântara da Casa Civil instala - mesmo que a cúpula de governo negue - uma guerra entre o PT teórico e o PT da prática.

No comando do esquadrão do PT teórico está o novo mandatário da Casa Civil, Cláudio Puty. Ele vem travando guerras homéricas desde o início do governo para delimitar seu território. E, diga-se, a bem da verdade, derrotando um a um os seus oponentes. O primeiro foi Carlos Guedes, que era o capo da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças (Sepof), que de muito próximo à governadora passou a persona non grata nas hostes do PT paraense em menos de seis meses de governo. No seu lugar, em junho do ano passado, entrou em cena José Júlio Trindade, braço direito de Puty há muito tempo.

Quatro meses antes, a jornalista e petista histórica Fátima Gonçalves teve que entregar o lugar de coordenadora de Comunicação do governo a Fábio Castro, que é o atual secretário de Comunicação de Ana Júlia. Quem conhece o currículo de Fábio Castro sabe bem que ele está mais para uma boa leitura de Marx em russo do que para pisar na lama de uma rua em época de campanha. 'Até mesmo na indicação de Fábio Castro a ingerência de Puty foi decisiva. Foi ele quem bateu o martelo no nome de Castro', diz um ex-secretário e velho companheiro de Ana Júlia. 'Não estou magoado. Estou calejado na política, mas a voracidade de Puty pode prejudicar a governadora no futuro. Anotem o que eu estou dizendo', acrescenta a fonte.

Na esteira das desavenças políticas, outro companheiro que foi 'engolido' por Puty e sua turma da Democracia Socialista (a famosa DS) foi o secretário de Desenvolvimento e Assistência Social (Sedes), Alberto Dasmasceno. Mesmo contando com o apoio da também histórica Regina Barata, Alberto sucumbiu e teve que entregar o cargo para Ana Maria Barbosa, íntima do então secretário de Governo, Cláudio Puty.

A saída mais conturbada de todas foi a de Mário Cardoso da Secretaria de Educação. Mário, um dos fundadores do PT no Pará, quase se engalfinhou com meio partido quando soube que seria defenestrado do cargo numa manobra comandada por Puty. No seu lugar ficou a acadêmica Iracy Gallo.

Como não podia deixar de ser, Claúdio Puty encaixou como sua substituta na Secretaria de Governo a já adjunta Ana Cláudia Duarte Cardoso. Embora Ana Cláudia seja uma especialista em urbanismo, peca por entender pouco de política, fundamental para exercer o cargo de secretária de Governo. Em seu favor conta, entretanto, antiga amizade com o secretário de Comunicação, Fábio Castro.

'Não há dúvida que Claúdio Puty está exercendo influência demasiada no governo. Mas são circunstâncias políticas que devem se tratadas internamente no PT. Esperamos que a governadora esteja atenta para não acabar isolada e sem apoio. Pior do que os ataques de inimigos são os ataques dos amigos', diz um parlamentar petista. Ele assegura que, ainda neste final de semana, a governadora deverá reunir, em encontro reservado e em local ainda não definido, a cúpula do governo e do partido para fazer uma espécie de 'lavagem de roupa suja' e avaliar o secretariado. 'Acho que em breve teremos uma mexida geral', diz o parlamentar.

De acordo com esta mesma fonte, Cláudio Puty só não teve poder de decisão na derrocada de Vera Tavares, da Secretaria de Segurança; e de Halmélio Sobral, da Saúde. Ambos caíram por trapalhadas próprias envolvendo o caso da menina que era obrigada a dividir a cela com homens em Abaetetuba e a inoperância do sistema de saúde e licitações no Hospital Regional de Santarém, respectivamente. Vera cedeu espaço para Geraldo Araújo e Halmélio para Laura Rosseti, ambos da cota de poder do PMDB.